quarta-feira, 16 de abril de 2014

Que nomes são estes?

Desde muito novo que a análise dos partidos políticos me interessa bastante. Sempre gostei de perceber a razão de se chamarem como chamam, os motivos que levaram à escolha de determinadas cores e até compreender a tradução prática daquilo que os seus nomes evocavam.
Rapidamente percebi que a ignorância, a mediocridade e os “lobistas”, do pouco que restava dessas tradições linguísticas, transformou estas siglas em meras siglas, ideologias em grupos de amigos e as cores não ultrapassavam a leve importância de fácil identificação.
Chegar a esta conclusão fez-me ficar triste mas também curioso.
Comecei por estudar o significado de Social-Democracia. Li Lenine e vi que era esse o nome da corrente política que mais tarde se organizou no Partido Comunista; estudei Palme e percebi a adaptação dos valores socialistas a uma sociedade capitalista democrática e o seu papel na educação e nas escolas; atentei aos registos do trabalho de Bruno Kreisky e compreendi finalmente o que significava ser Social-Democrata  relativamente  no apoio à investigação científica.
Até que olhei para Portugal…
Em Portugal qual seria o partido Social-Democrata? O que ostenta esse nome com toda a arrogância típica da pobreza intelectual dos políticos do séc. XXI? Ou o que se esconde atrás de uma “rosa” para tentar agradar a todos e proteger o seu núcleo?
“Então porque envergam os partidos estes nomes? Será que no passado eram coerentes entre a sua agenda política prática e a que ostentavam?” Pensava eu…
Pois bem, aí dei asas à minha veia historiadora e quis saber se os fundadores destes partidos eram verdadeiramente social-democratas. Estudei, li e fiz os possíveis por exercitar a minha mente numa viagem temporal até aos discursos de Mário Soares ou Francisco Sá Carneiro e encontrei neles uma riqueza intelectual que não se encontra hoje em nenhum dos seus partidos, mas não encontrei Social-Democracia. Não encontrei ideias para a construção de uma democracia preocupada em defender o Estado Social, em transpor os valores socialistas para a economia de mercado. Vi antes o oportunismo, o “lugar ao sol”, o marfim, o ódio aos comunistas e a proteção dos poderosos.
Aí compreendi que Portugal, apesar de ter socialistas e social-democratas, não tem nem nunca teve uma verdadeira Social-Democracia. Contente-mo-nos com comentadores da esquerda caviar? Com socialistas racistas? Com homens SEGUROS da sua pobreza intelectual e humana e prontos para fazer dela a arma bestial contra a democracia honesta e a Esquerda democrática? Com neoliberais que nunca leram Hayek ou Friedman e que se investem de austeridade como se nada fosse? Contente-mo-nos com uma “social-democracia” de laranja podre, com o seu conceito enxovalhado por uma corja de “meninós” que leram ontem o Diário Económico pela primeira vez?
Eu não me contento e, como cidadão, exijo que esses “social-democratas” dispam esse fato que não é deles, que vistam o fato-macaco do self-made man que, hoje, graças à diminuição da intromissão do seu governo chato e maçador, subiu na carreira e hoje serve às mesas.

Vão ler, vão estudar, vão ser empreendedores, mas não se digam o que não são.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Sem título: o tempo que passo no facebook não me permite pensar nisso

Sento-me para escrever sobre as declarações da Isabel Jonet e tenho dificuldades em começar. O asco que tal figura me causa tolhe-me o espírito. 
Não sou capaz de reagir com a seriedade científica com que vi alguns comentarem a triste verborreia. Dizem que Isabel Jonet não tem razão porque a grande maioria das oportunidades de emprego estão em fóruns online. Não contesto que tenham razão, não desconsidero o seu contributo para a discussão. Mas a contestação que a Isabel Jonet me merece não é do plano da ciência. É do plano moral. É nesse plano que combato tudo aquilo que Isabel Jonet representa. 
Não me lembro se assinei ou não a petição que pedia a demissão de Isabel Jonet do cargo de Presidente do Banco Alimentar. Lembro-me bem, isso sim, da revolta que me causaram aquelas declarações, das discussões ferozes que tive por causa delas e de ter tido a certeza que dali nada se podia esperar de bom. Seguiu-se uma entrevista em que Isabel Jonet dizia preferir a caridade à solidariedade. Queixava-se de ter sido mal interpretada na entrevista à SIC. Mas não perdia a oportunidade de fazer das suas de novo. 
Andou afastada e não tínhamos saudades. Mas na terça-feita veio a terreiro acusar os desempregados de passarem demasiado tempo agarrados às redes sociais, as suas maiores inimigas. 
O problema não está nas declarações em si. Está na concepção que lhes está subjacente e que representa o pior que a caridade nos oferece. 
Isabel Jonet é Presidente do Banco Alimentar. Presta a muitos necessitados um serviço de inquestionável valor. E acha que em função disso os pobrezinhos que ajuda são propriedade sua. Que sobre tudo o que se passa na vida deles pode opinar. Mais! Acha que lhes pode prescrever as condutas dignas de um pobrezinho que se preze. Não devem comer bifes, nem lavar os dentes com a água a correr (Como fazem os seus filhos. De resto, por serem seus filhos parece não fazer mal.), não devem ir a concertos e, sabemos agora, não devem perder muito tempo no facebook. 
Há uma bitola que pobre que é pobre tem de preencher para ser digno da ajuda que a magnânima Isabel Jonet, do alto da sua bondade e da sua superioridade moral, concede. Só assim não se deverá sentir culpado por ser pobre. Só assim será digno da esmola que recebe. 
As declarações sobre a inexistência de miséria em Portugal e sobre a irresponsabilidade dos pais que deixam as crianças irem para a escola com fome falam por si. 
Isabel Jonet é a afirmação do pior que a caridade comporta, é por isso que ambas têm de ser contestadas. 
A luta continua. Contra a fome e contra muito mais do que isso.