segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Uma ingénua reflexão sobre o pós-capitalismo

O sistema capitalista infiltrou-se em inúmeras esferas do ser humano. Interfere de forma destrutiva mas ao mesmo tempo perpetuadora do próprio sistema. Esta interferência é, muitas vezes, mais visível no campo Simbólico, penetrando no nosso inconsciente e deformando a nossa percepção das coisas, do Outro, de nós próprios, da realidade. A profundidade e o alcance destas interferências é tal que na nossa concepção do fim do mundo ou do fim da própria vida, atribuímos primazia à ideologia. É tal a interferência, e de tal modo destrutiva, que o uso da Razão está também ele minado pelos pressupostos e valores capitalistas, reduzindo, a priori, o alcance do nosso raciocínio e a sua complexidade. A influência negativa da lógica de acumulação, tanto para o universal como para o particular, é algo já muito falado e estudado.
A pergunta é, recordando o velho Lenin, "o que fazer?". Para responder-mos a esta questão precisamos: 
1) Analisar criticamente as tentativas falhadas de superação do capitalismo;
2) Formular novas perguntas adaptadas ao nosso contexto histórico-social repensando a sociedade à luz dos teóricos do passado.

Estas são as duas grandes sugestões de Slavoj Zizek, mas uma vez dados estes dois passos, temos que nos atrever a iniciar o processo de superação do capitalismo. Esse processo divide-se em três grandes esferas (individual, local e global) e deve começar exactamente onde a interferência ideológica é mais profunda: no campo Simbólico. 
Mas como? 

Na minha humilde condição de estudante, arrisco-me a propor uma "destruição metafísica" das relações de poder feitas através do dinheiro/capital. Esta "destruição", no plano local, deve ser levada a cabo por um número considerável de membros da comunidade, exigindo um mínimo de compromisso, concentrando-se em criar estratégias de não reconhecimento dos mercados capitalistas recorrendo a formas alternativas de troca. No campo global, deve-se fazer frente às grandes instituições financeiras através da cooperação entre estados e da criação de redes alternativas que não respondam perante os gigantes tradicionais. É arriscado, mas aqui devemos seguir Napoleão "On s'engage et puis on voit".
No campo individual, a "destruição" deve seguir as velhas orientações de Marx: auto-reflexão e a recuperação da soberania na atribuição de sentido aos nossos objectos de desejo e na construção da nossa identidade. Este passo na esfera individual é o que permite a participação activa e eficaz nos compromissos de acção colectiva. Sem esta auto-reflexão, a participação torna-se cega. Isto é, a impermeabilidade do sujeito perante uma possível deslocação da sua identidade para a Causa em si, a total entrega ao Grande Outro, fica muito reduzida.

Assim, existe uma relação de profunda e complexa dependência entre estas três esferas. E, seguindo a tríade lacaniana, existe também uma relação de interligação entre o Simbólico, o Imaginário e o Real, modificando-se e afectando-se entre si. Desta forma, uma revolução no Simbólico, obrigatoriamente inicia uma revolução no Real e no Imaginário.
É com esta "destruição metafísica" que se torna possível libertar da prisão ideológica que vivemos. Sem ela, os nossos instintos e vontades inconscientes continuarão a seguir o quadro de valores capitalistas.

É preciso sair da alienação, tomar consciência, compreender a ideologia e a repressão. É preciso recuperar a consciência do nosso poder, da nossa autonomia, da nossa liberdade e, em última instância, de nós próprios.