Justiça ou
Liberdade?
Durante a última semana, refleti sobre esta questão. Até que
percebi que não era uma questão, pois nunca estes dois princípios poderiam ser
analisados como uma dicotomia. A sua cooperação é constante e fundamental para
a maximização de ambos.
Sempre nos ensinaram que “a nossa liberdade acaba quando a
dos outros começa”. E é aí que entra a justiça: na base do nosso projeto de
ascensão a uma liberdade suprema ou absoluta, estão integrados valores de
justiça que nos limitam e nos indicam e alertam para um “excesso de liberdade”.
Mas o contrário não sucede. Ninguém nos acusa de sermos demasiados justos e de
por isso interferirmos com a liberdade do outro. Desta forma, não poderíamos
nunca entender como “ou um ou outro”, mas sim, a evolução e a construção de um,
depende das limitações ditadas pelo outro.
Mas com isto, surgiu-me outra questão: então e qual é o
limite que a justiça terá de impor à liberdade e em que critério se baseará
esse limite? Pois bem, aí olhei para a mais rudimentar das situações e imaginei
o que aconteceria se eu tivesse que sobreviver sozinho no mundo, sem mais um
único ser humano vivo. Percebi rapidamente que não só as minhas capacidades
intelectuais e emocionais ficavam afetadas gravemente, bem como a minha própria
segurança ficava em causa. Portanto a minha sobrevivência como ser humano
racional, mentalmente são e pensante, depende também da cooperação com o outro.
Ora, se a minha liberdade não for limitada por valores de justiça (como por
exemplo o direito à integridade física do outro e à sua dignidade), poderá
tornar-se danosa para mim, chegando a um ponto autodestrutivo. Assim, eu tenho,
por questões de sobrevivência, de limitar a minha liberdade para ela não se
tornar a minha própria morte, interferindo no funcionamento do coletivo e
atingindo-me indiretamente. Por exemplo, imaginando uma situação hipotética em
que eu sou dono de uma empresa: se eu não oferecer um salário razoável, não
perceber as diferentes capacidades e aptidões dos meus trabalhadores e não me
esforçar para dar aos meus trabalhadores uma vida saudável, motivação e oportunidades
de crescimento, estes poderão acabar por se desmotivar, diminuir a capacidade
de produção, procurar outros locais de trabalho, reprimir a sua criatividade
e/ou capacidade intelectual, levando a uma diminuição da capacidade de produção
da minha empresa e, a longo prazo, levar-me a uma queda de lucros ou até
nalguns casos, falência.
Essa limitação, terá de ter por base valores de justiça e de
empatia, que me permitam viver em cooperação e fraternidade com o outro,
respeitando os seus direitos e reconhecendo-lhe a mesma importância para a
sociedade que reconheço a mim próprio. Mas precisamente um dos direitos básicos
de justiça é o de reconhecimento de igual liberdade ao outro; de igual
oportunidade independentemente da sua pré-condição natural, económica ou
social. A liberdade está, também, inserida nos valores de justiça fundamentais
para a coordenação da construção da nossa própria liberdade.
A justiça não é um caminho e a liberdade outro, a justiça é
a base para a construção da liberdade e a liberdade é condição para uma
verdadeira justiça.
Nunca uma pode ser deteriorada em nome da outra.
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