O manifesto “Preparar a reestruturação da dívida para crescer sustentadamente”
assinado por 74 personalidades portuguesas, vindas de campos tão separados
ideologicamente, vem abrir mais uma ferida bem no centro da exponencial gangrena
ideológica e suas instituições, que regulam o caminho económico levado a cabo
em Portugal.
Uma solução que deve ser vista como parte do problema que a causou, por isso mesmo sem qualquer tipo de sustentabilidade, e que o perpetuará.
De pouco servirá para chamar a atenção de um governo cujo mais
alto representante apelidou os assinantes desse texto como “essa gente (…)
irresponsável”, e do seu crescimento sustentado retira-se apenas a sustentabilidade do sistema causador e interessado na crise.
É, no entanto, a forma clara e irrevogável – este é-o,
garantidamente - do desabamento de qualquer tipo de apoio ideológico por parte
de altas influências no meio do espectro político que paira por São Bento.
Recentemente, catedráticos de todo o mundo, conceituados por
revistas da finança global e por altos cargos no FMI e outras organizações sui generis, vieram a público acompanhar
a ideia assinada pela “gente” de Passos Coelho, que não são mais do que
portugueses preocupados com o caminho direccionado ao abismo que Portugal toma ao
seguir a rota do rudimentar GPS mercantil. Afirmaram, subliminarmente, que
chegou a altura de o Governo ser corrido do poder de decisão.
O manifesto dinamizado por João Cravinho e Francisco Louça
ultrapassou, assim, fronteiras de apoio.
Se, até ao momento, das ruas não se conseguiu atear a chama da mudança, surge,
tarde, dos mais variados sectores da sociedade, uma voz de ruptura contra o
caminho até agora seguido pela troika e o seu obediente animal doméstico governativo. Este manifesto que, não trazendo nada de novo, afirma-se nos media como a solução ideal e, imprudentemente, como a única, será, juntamente com o governo, arrastada pela
teia sistémica neoliberal.
A hipótese de anular a dívida ficará com lugar marcado nas manchetes jornalísticas quando a reestruturação, se se der, levar o país a um estado de afogamento social.
Desta perigosa e sedutora solução chegamos a um ponto onde responsáveis políticos passeam,
mais um pouco, na doente caminhada pelo infinito da estupidez humana ao não saírem simplesmente de cena.
Nós, que sustemos o palco do capital, por outro lado, não
vamos a lado nenhum. Para o bem e para o mal.
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