quarta-feira, 11 de junho de 2014

A febre da partilha

Hoje decidi escrever este parágrafo apenas para exprimir a minha repulsa com o tipo de informação que vejo a ser anunciada e partilhada pelos membros desta sociedade. Nós, os indivíduos que habitam o presente, somos privilegiados e dispomos de inúmeras formas de obter e partilhar informação mas, no entanto, cada vez que me ligo a este mundo virtual, seja através de redes sociais ou em supostos sites de informação deparo-me com informação inócua e irrelevante… Sempre fui da opinião que a partilha de informação é uma das nossas maiores armas para combater a ignorância e continuo a ser um crente nessa fé cega. Chamo-lhe cega pois não acredito agora que esta comunidade global se estimule num sentido que eu considere positivo, que de certa forma esta partilha de informação tem vindo a promover a ignorância e o tipo de informação que se partilha é escolhida de forma a diminuir a capacidade crítica do ser humano. Assim, desviando o intelecto humano de acções relevantes para o seu melhoramento e ocupando-o com temas que têm tanto de fútil como de desinteressante conseguem criar um batalhão de soldados do vazio. Sem saberem, fazem parte da infantaria, ou carne para canhão, ao serviço da sociedade de consumo.  A maioria dos utilizadores destas redes sociais, que beneficiam destas plataformas e podem assim partilhar informação com (quase) o mundo inteiro, fazem parte da chamada classe privilegiada, que dispõe de um tecto, uma cama, comida e ah, claro... de um computador com ligação à internet. Desta forma, estas plataformas de partilha são ocupadas pelos estímulos ao consumo. A nova onda de partilhas de fotografias do almoço, da vista de um café num miradouro ou da nova discoteca da moda veio infectar as mentes dos observadores das mesmas com a falsa necessidade de comer “aquela” refeição “naquele” restaurante ou de ir beber um copo “naquele” miradouro. Esta moda não apareceu de forma espontânea, foi pensada, desenvolvida e posta depois em prática pelas grandes cabeças de marketing desta nossa sociedade. Sei que enquanto utilizador destas redes sociais (tanto eu como qualquer outra pessoa) não passo de um mero peão no jogo deles mas se de alguma forma eu conseguir chegar à outra ponta do tabuleiro talvez tenha uma hipótese de tentar uma jogada surpresa, a da informação relevante! Claro que posso ser apelidado de controlador ou podem até apontar o óbvio, que a informação tem relevância e valores diferentes para todos nós, que hoje em dia temos a liberdade de expressão para dizer o que entendermos, da forma que quisermos mas, por favor, peço uma coisa apenas, valorizem o facto de a terem. Não a banalizem. Talvez tenha escrito isto porque estou farto de ver actualizações sobre o itinerário gastronómico de algumas pessoas e de saber a opinião de outras sobre o programa de ontem e até posso estar a ser injusto mas muitos escolhem usar esta liberdade para partilhar o conjunto novo que compraram e eu escolho usá-la para dizer a essas pessoas: NÃO ME INTERESSA. 

domingo, 1 de junho de 2014

O perigo do vazio

"The only thing necessary for the triumph of evil is for good men to do nothing"
Edmund Burke

Nestas eleições no dia 25 o que mais me preocupou não foi o avanço da direita radical e nacionalista, mas sim, a ausência de ideologia e o vazio das propostas dos Socialistas e Social-Democratas.

Estamos a viver uma era onde, devido ao golpe de estado de Maastricht, o avanço em políticas sociais é muito reduzido e dificultado A cada dia que passa, vemos as conquistas do pós-guerra desvanecerem-se algures pelos mercados. Vemos a xenofobia pelos países do sul ser fomentada não só por nacionalistas mas também por elementos de partidos do Partido Popular Europeu. Temos a confirmação da perda total de solidariedade quando a Fuhrer Merkel afirma que “a União Europeia não é uma união social”.

E o pior de tudo isto não é a afirmação do racismo ou da insensibilidade social, mas sim a ausência de uma oposição de esquerda, forte e democrática. O pesadelo iniciado por Tony Blair revelou-se muito mais que um pesadelo: foi o começo de um suicídio de identidade política.
Perante um cenário tão negativo e depois de anos de austeridade a destruírem a Europa, esperava-se que a Social-Democracia aparecesse a defender os valores do Estado Social, da solidariedade e da proteção dos desfavorecidos. Mas não. Em vez disso esvazia-se como um balão em discursos cinzentos e governos “à Hollande”. Não é capaz de se olhar ao espelho e refletir sobre si mesma. Com um vazio ideológico tão grande à esquerda, repleto de partidos incapazes de capitalizar o descontentamento das políticas neoliberais, as massas aderem a quem põe o dedo na ferida. Já todos o devíamos saber há muito tempo.

Seja, por isso, altura dos seguidores de Bernstein o lerem no original.