A vitória do Syriza
é uma vitória de todos os que se opõe à Europa do século XXI. De todos os que
se opõem à austeridade. De todos os que põe as pessoas à frente do capital.
Talvez não satisfaça os puristas, talvez não venha a ser o que parece, talvez
haja incongruências; mas não há nada que lhes agrade, não há nada que venha a
ser o que se planeou, não há nada que seja coerente em absoluto. Sou obrigado a
subscrever o Zizek quando afirma que o Syriza foi a esquerda que teve a coragem
de largar o conforto do confronto marginal para arriscar tomar o poder. Pode
ser um conforto com objectivos mais “complexos”, mas é um conforto. Sem
conotação positiva ou negativa, apenas como facto.
Sou da opinião de
que há soluções diferentes para o mesmo problema, e apoio as várias tentativas.
A tomada do poder mantendo a mesma matriz institucional seguramente não me
parece a melhor estratégia a longo prazo, mas 300 000 gregos têm agora acesso
aos serviços mínimos que antes não podiam pagar. O funcionário do Pingo Doce grego
ganha agora quase mais 200€ que antes. Se no longo prazo esta pode não ser a
melhor estratégia, no curto prazo é uma vitória inigualável na Grécia. Pelo
menos para aqueles que lá vivem.
Para além disso,
abrem-se mais portas. A esquerda radical está a conseguir recuperar espaço
político na Europa. Acima de tudo está a conseguir, lentamente, equiparar o seu
crescimento ao da extrema-direita, o grande perigo que enfrentamos agora. O timming também é o certo, a menos de um
ano das legislativas espanholas, a vitória do Syriza pode ser a garantia do
Podemos, e pode ser o apoio de um possível Costa na Europa ou, num cenário
ambicioso, o impulso que falta ao Die Linke ou ao BE. Não falamos de paraísos,
mas de uma europa menos infernal. É nesse sentido que estas são,
incontornavelmente, vitórias.
Falamos de partidos
populistas? Sim. Mais uma vez, a via do populismo de esquerda não me parece a
mais bela, mas se for esse o meio para melhorar francamente a vida de uns
milhões de pessoas, que seja.
Não são as vias e
soluções que mais apoio ou nas quais deposito mais esperança, mas julgá-las sem
lhes conceder crédito é simplesmente triste. Entristecem-me aqueles que não
conseguem mais que tecer críticas sem conceder créditos, aqueles que não
conseguem conceber mais do que duas cores, que não percebem que o mundo não é
preto no branco e que é precisamente nas tonalidades que reside o valor das
coisas.
Prefiro o branco,
mas na impossibilidade de o obter, prefiro que o cinzento seja claro.
Agora, resta-nos
esperar. No meu caso, espero que o Syriza consiga ser bem sucedido naquilo a
que se propõe, aos sectários de esquerda que lhes desejam mal, precisamente por
o fazerem estão um passo mais longe de serem bem sucedidos nas suas próprias
lutas.
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