O capitalismo leva
agora mais de um século de desenvolvimento. Está integrado em todos os sectores
da sociedade. Ao contrário do que se passava antes, a lógica quantitativa do
mercado está presente em todos os espaços que por excelência se distanciavam dessa
lógica. Das artes ao tempo livre, da casa ao café, da cultura à tecnologia. É
cada vez mais difícil distanciarmo-nos da lógica mercantilista em vigor.
Rejeitá-la apresenta-se uma tarefa heroica.
Já não há, pelo
menos na Europa, uma esquerda forte. Não há uma cultura revolucionaria num
sector representativo de nenhuma sociedade europeia. Não existe esquerda
radical que não seja meramente circunstancial, o Syriza e o Podemos são
esquerdas radicais, de dimensões significativas, mas tão passageiras como o
Bloco de Esquerda o é. Os objectivos originais de todas as esquerdas foram-se
dissolvendo em exigências temporárias. A procura da cura transformou-se em
administração de medicamentos. Não consigo conceber, nesta década ou nas
próximas, uma solução europeia. Muito menos uma solução mundial. Infelizmente,
essas soluções são “coisa do passado”.
São escassos aqueles
que publicamente se assumem como anti-capitalistas, pelo menos na esfera
pública, o próprio termo cai cada vez mais em desuso por calculismo político
mal calculado.
Coloco-me então a
questão: não passará a solução pelo inverso? Soluções locais e autónomas que
tenham o potencial de expansão? Que sejam o laboratório de experiências
políticas, quer de organização social como de pensamento livre, de novas formas
de governo e antigos métodos de autogestão.
Comunidades
excedentárias que possam usar excedentes para combater défices. Não há emprego
ou desemprego numa comunidade, há tarefas, infinitas. Umas necessárias outras
acessórias. Não há forma de uma comunidade ser auto-suficiente e ter variedade
nos produtos que dispõe. Nem creio que seja desejável uma comunidade que se
deseje excluir em absoluto de tudo o que o capitalismo trouxe com ele. Mas é
possível que disfrute sem excesso do que de bom há no “desenvolvimento”
recorrendo aos excedentes como meio de financiamento.
Estas comunidades,
no entanto, têm que deixar de ser exclusivas daqueles que se marginalizam para
serem escolha daqueles que se afirmam. Têm que ser escolhidos não só por nós, mas
pelas figuras públicas deste mundo, da política à cultura. Parece-me,
infelizmente, que para ganharem a dimensão de “alternativa” têm que ser legitimadas
desta forma.
Têm que se tornar
espaços de criação artística e intelectual. Espaços onde a labora e o trabalho
são duas coisas diferentes, a primeira necessária e limitada pela necessidade,
o segundo como uma escolha, ilimitada pela vontade. O que as cidades foram
noutros tempos, pode agora ser o campo.
O efeito
multiplicador aplicar-se-ia na perfeição a este meio, que no espaço de gerações
poderá vir a constituir a melhor e mais desenvolvida alternativa ao
capitalismo. A multiplicação de comunidades deste género, acompanhada de perto
pelo desenvolvimento tecnológico criará condições para que este estilo de vida,
inicialmente ligado ao mercado por necessidade dele se separe por
possibilidade.
Que outra solução é
tão exequível e real? Que outra solução pode ser tão global senão uma local? Só
este formato permite a diversidade necessária para uma escala mundial. Só assim
quem se governa vive contente com o seu governo, porque é seu, não apenas
escolhido por si. Para além da diversidade de novos sistemas que
necessariamente surgirá, a globalização permite igualmente a partilha destes, que
não sendo mais marginais se podem rapidamente tornar originais alternativas.
É a única
alternativa real em que consigo
pensar. Seguramente existem outras, e esta sem dúvida desencadeará outras
tantas, seguramente melhores. Mas como primeiro passo, parece-me o passo mais acertado.
Nunca ouviste falar em Ciência? O que norteia a tua confiança? Se não encontras soluções nela segue a poesia,como Einstein, que aconselhava:-quando a Ciência falhar,segui os poetas! Acorda,homem,a vida não é feita de patranhas...
ResponderEliminarSe te quiseres identificar agradeço, facilita a comunicação. Discutir com anónimos é chato.
ResponderEliminarQuanto a este texto, foi escrito mais por impulso do que conscientemente. Foi uma síntese apressada de algumas coisas que me vão na cabeça desde há alguns tempos. Agora que o releio há varias coisas que não me agradam no que escrevi.
Eu acredito que a ciência é parte da solução como, aliás, explicito no texto. Acreditar que a ciência é A Solução, parece-me ingénuo. Como provavelmente também o meu comentário o é, mas pelo menos é concreto.
Não te quis magoar... Falo da Ciência como instrumento fiável,o mais fiável que conheço e da poesia.Já chegam para muito, e fora delas a opacidade é tal que mais vale passar ao largo. Estamos nos preliminares de um conhecimento:não tenho pudor em revelar o meu nome, quando vale a pena, e talvez agora valha.
ResponderEliminarObrigado por te indentificares, pedi apenas porque gosto de saber com quem falo.
ResponderEliminarQuanto à ciência, não a considero fiável, considero-a útil. Fiável ou não, é a mão que a maneja.
A poesia, por outro lado, é clara como dizes. Nela confio mais que na ciência. " Têm que se tornar espaços de criação artística e intelectual." Estes são espaços de poesia mais do que qualquer outra coisa. São comunidades humanas que buscam liberdade no campo. A mim parece-me poético :)
Exagerei claramente quando disse que é a "única alternativa real". Mas é seguramente a que mais me agrada, não obstante não ser aplicável à maior parte dos países não-europeus.