Numa altura em que a Humanidade enfrenta uma das maiores
crises de que há memória, pondo sérias dúvidas relativamente ao seu futuro e à sua
sobrevivência – quanto mais não seja, no campo mental -, parece-me razoável que
a esquerda realmente adversa ao pântano do capital seja, antes de mais, o
principal foco da ruptura sistémica.
Ser de esquerda, hoje, é tanto.
Podemos dizer, com clara convicção, que o que move a esquerda nestes tempos de renovadas relações pessoais, que levam a uma notória
gratificação pela dependência de instrumentos, e consequentes atalhos para a
alienação - que assim perpetuam a degradação do nosso bem mais precioso, a
felicidade da companhia e do calor humano, no seu mais franco significado -, é
a mudança
O ser Humano, para viver longe das auguras da necessidade
momentânea e da aceitação do conformismo como linha regular de vida, precisa de
partilhar experiências que o marquem, vivendo intensamente; atingindo um nível
de percepção interior profundo e redescobrindo-se a cada esquina ou tormento,
conhece-se.
Na esquerda encontramos o farol – bem mais que político – para
quem não se identifica com a banalização da condição humana no seu meio social,
que lhe retira as asas da criatividade e da possibilidade de serem plenos seres
pensantes.
Nesse farol, vários raios de luz indicam-nos possíveis
caminhos que nos permitem vislumbrar um porto seguro detentor de uma honesta
esquerda vocacionada para um futuro, que se revela cada vez mais, impróprio
para mentecaptas e maquinalmente assertivas no cumprimento de ordens
subjugadoras, pois o que transmite o alento profícuo a que se passe por tais obrigações,
a sua remuneração - o dinheiro - está a afundar-se ao relento da sua própria
estagnação. Podemos, e devemos, vê-lo como um futuro possível.
Só assim o
conseguiremos romper.
E assim continuará a perfurar a sua já frágil linha de
circulação, pondo todos os que dele dependem para se sentirem realizados num
lago sem margem, afogando cegamente nadadores acéfalos.
Procurando, se encontra, e para quem se quiser libertar da
asfixia que nos impede de vivermos dignamente, na esquerda há um sem número de
bóias salvadoras prontas a serem lançadas; que pelo reactivismo - tão característico
do melhor do homem - se mantiveram cheias, vivas, vermelhas…
E grandiosamente espaçosas.
Este sistema desenvolveu-se - enquanto ultrapassava todas as
limitações físicas do Homem - segregando para um campo tecnológico todo o
potencial que tinha para acabar, entre tantos outros, com crimes humanos
inadmissíveis no séc. XXI: a cada segundo morre alguém de fome, por esse
horizonte das falanges do esquecimento capitalista.
Rumou-se ao caminho contrário da satisfação de necessidades
básicas, entrando num percurso de constante insuficiência; o Homem ficou preso
entre as grades de um sistema que, entre naturais crises cíclicas, decide
quanto vamos comer ou trabalhar.
A esquerda, contraria tudo aquilo que limita as
nossas capacidades humanas e sociais; que nos impede de seguir um caminho tão
nosso, tão belo.
Pela virtuosa sensação do companheirismo e do sorriso amigo;
pelas planícies irregularmente perfeitas de onde é possível despedirmo-nos de
um sol que nos acena cautelosamente, sorrindo com a esperança de um céu limpo;
pelas florestas que abundam de fauna e de flora e por querer sentir a vida, sou
de esquerda hoje.
Parece-me uma visão poética algo poética... por isso gosto Pedro Frangioia
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