É difícil assumir a responsabilidade dos nossos atos. É difícil
arcar com as consequências das nossas escolhas. É pesado o fardo de ser o único
capaz de ultrapassar as nossas barreiras interiores. Mas mais difícil tarefa, é
conciliar toda essa responsabilidade com o desejo fervoroso de ajudar os outros
a assumi-la.
E nisto entra o papel do Estado. Mas qual é ele? Será apenas
um Estado mínimo cuja função é atenuar as desigualdades e proporcionar aos
desfavorecidos iguais oportunidades? Ou será algo de mais profundo, mais
paternal, capaz de nos impedir de tomarmos caminhos que serão danosos para a
nossa própria existência?
Na minha opinião, este debate é demasiado complexo para me
poder limitar a dar uma opinião simplificada. Contudo, não quero deixar de
expressar a minha visão sobre este tema.
Para mim, o Estado (essa entidade quase abstrata escondida atrás
das longas filas de espera da segurança social e dos hospitais públicos) não é
mais do que o conjunto de todos nós. É o conjunto de todas as instituições e
pessoas. É a única entidade em quem podemos confiar exatamente por fazermos
parte dela.
Mas terá o Estado de ter o papel paternal de nos impedir de
seguir rumos que nos levam à infelicidade? Terá o Estado o direito de me dizer
o que eu devo ou não fazer relativamente à minha vida? Por muito que nos custe
ver um amigo numa relação amorosa complicada, nada saudável, temos o direito de
lhe tirar a oportunidade de viver essa relação hedionda com o(a) parceiro(a)?
Na minha jovem opinião, não. O Estado não pode ultrapassar o
limite de “safety net”. Não tem o direito de ser o pai que nos dá ordens, mas
tem o dever de ser a mãe que nos recebe sempre de braços abertos mesmo quando
erramos. O Estado tem de ter paciência, tem de ser compreensivo, empático. Mas
jamais pode ser autoritário, manipulador e moralista. O Estado jamais pode ter
como missão incutir valores morais aos cidadãos.
Mas afinal, qual é a linha ténue que separa esses dois
Estados?
Para mim essa linha é demasiado complexa para ser definida
com meras palavras ou com réguas e esquadros. O papel do Estado tem que ser
algo constantemente questionado, avaliado e melhorado. Na economia, por
exemplo, tem de ser influente. Tem o dever de garantir aos que vivem em piores
condições o direito a viver uma vida digna. Tem de garantir preços baixos
(acessíveis a todos) nos sectores basilares da sociedade. Tem de ter um papel
ativo.
Mas o contrário se passa quando tocamos nas tradições e na
cultura. Não apoiaria um Estado que me ditasse que tipo de comidas eu podia ou
não comer, mesmo tendo como fundamento as mais recentes descobertas ao nível da
nutrição. Não apoiaria um Estado que me dissesse a que horas o meu filho se
deve deitar, com que brinquedos deve brincar ou que roupa deveria vestir. Não
apoiaria um Estado que me impedisse de ver filmes pró-fascistas, que me
impedisse de me manifestar por mais radical que fosse a minha posição, que me
impedisse de ler livros de movimentos totalitários, que me impedisse de criar o
meu próprio jornal ou que monopolizasse qualquer meio de comunicação.
O Estado não pode nunca ser esse ser estranho que me vai
ensinar a viver a vida. Mas tem de ser sempre aquela entidade que me permite
vivê-la, independentemente da minha condição socioeconómica à nascença.
E seja qual for o Estado que tivermos, ele será sempre o
conjunto de todos nós.
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