Assusta-me o sectarismo. O pensamento dogmático. Vemo-lo nos
neoliberais cegos por pressupostos e de mão dada com os grandes grupos
financeiros mas também o vemos na esquerda. Sobre os primeiros já muito pensei,
conversei e ataquei. Sobre os segundos começo agora a perceber o seu perigo. E
este perigo atinge todos os cidadãos, não atinge só os próprios e os amigos.
Que perigo é este? O perigo da austeridade eterna e do domínio
absoluto da política portuguesa pela direita neoliberal. O perigo da
descredibilização da democracia e da utilidade dos partidos. E porque é que
digo que o sectarismo nos leva a esse perigo? Porque uma esquerda presa a
dogmas, a ideais e pressupostos (tão rígidos e falsos como os dos amigos de
Friedman), sem coragem para arriscar a tomada do poder e a participação em
governos de coligação, é a verdadeira morte do artista.
Diagnósticos? Já muitos foram feitos e todos sabemos a
situação do país. Já muita gente se apercebeu do que se está a passar, dos constrangimentos
que nos estão a ser impostos. Mas ninguém fala em soluções. Ninguém consegue
apresentar soluções realistas e aplicáveis. Se eu queria que o mundo fosse
diferente? Claro que queria, mas é a participar no governo que se dá os
primeiros passos em direção a uma sociedade diferente. Seria muito mais giro e fácil
mudar tudo duma vez só, se não vivêssemos na situação atual.
É uma pena que tantas esquerdas não compreendam o papel
fulcral que têm a desempenhar no poder para realmente se sentir uma mudança
positiva na nossa vida política. É uma pena que fiquem presos ao seu dogmatismo
e arrogância de iluminados incompreendidos. De sonhadores que se recusam a
arregaçar as mangas e trabalhar com as ferramentas que nos dão. E a pena que
tenho não é deles. Daqui a uns anos é bem possível que venham a mudar de
posição (dependendo do que os órgãos da direção lhes disserem para fazer).
Tenho é pena dos portugueses que anseiam por um governo que seja capaz de mudar
a vida no campo do que é possível e do que é viável, tendo em conta a nossa
perda de soberania e as possíveis consequências de atos mais corajosos e dignos
frente aos burocratas de Bruxelas.
É uma pena que passados tantos anos de 1848, ainda não se
consiga compreender que os radicalismos só nos levam ao fracasso.
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