quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O que é ser de esquerda hoje?

Desde muito novo que me questiono sobre o que é ser de esquerda. Sempre me despertou muito interesse investigar em que difere uma pessoa de esquerda de uma pessoa de direita e o que representa ser de esquerda na vida do dia-a-dia. À medida que fui crescendo, fui adoptando certos valores. Valores de justiça, de igualdade de oportunidades, de empatia, e percebi que esses valores me definiam, politicamente, à esquerda. Mas, com o tempo, fui estudando e descobrindo nas traduções práticas dos regimes de esquerda não democráticos, capítulos menos felizes e com os quais eu não concordava, apesar de compreender o seu contexto.

Afinal, o que é isso de ser de esquerda hoje em dia?

Percebi que somos muito pequenos para mudar tudo de uma só cartada, mas que somos gigantes se semearmos as nossas ideias. Dessa forma, aceitei o mundo que me rodeava. Por muito plástico e falso que fosse, era o mundo com que eu tinha que lidar. Por isso, comecei a espalhar a semente, conversando com amigos, colegas, partilhando ideias e conhecimentos não só para minha própria aprendizagem mas para incentivar nos que me rodeavam um debate mais concreto e aberto sobre ser de esquerda hoje. Dei por mim a imaginar como aplicar valores de socialismo, de igualdade e de liberdade na sociedade portuguesa do século XXI. E descobri que, hoje, mais do que nunca, podemos ser verdadeiramente de esquerda.

A interpretação do que vivemos e de como o vivemos depende única e exclusivamente de nós, e dentro de um sistema capitalista repleto de injustiças, podemos “semear a esquerda”, dando-lhe uma força humanista e colectiva como nunca teve.
Ser de esquerda depende dos nossos hábitos de consumo. Só depende de nós fazer uma jantarada em casa com os amigos em vez de ir ao restaurante. Só depende de nós reduzir a conta da agua colocando um balde por baixo das torneiras que pingam sem cessar para mais tarde reutilizar. Só depende de nós ser amigo do nosso amigo e valorizar o lado humano da vida, ninguém nos obriga a ser consumistas e materialistas. Ser de esquerda é isso mesmo, é semear generosidade e empatia, é ajudar o outro sem ele nos pedir, é trabalhar em equipa sem pisar ninguém, é pensar no homem como parte da natureza. E, numa hierarquia de poder superior, é colocar os interesses da população à frente de tudo o resto: porque para se ser Governo, é preciso governar.

Ser de esquerda não é dar esmola, é partilhar. Ser de esquerda é pegar nos sapatos do outro e calçar. Por isso a esquerda não é algo que se possa agarrar e enfiar em fatos bonitos dentro de carros guiados por motoristas. É algo mais profundo, mais complexo e ao mesmo tempo mais terra a terra. São aqueles pequenos nadas que caracterizam a forma como vivemos a vida. É aceitar as diferenças de todos e defender a liberdade de cada um. Para mim, ser de esquerda nos dias de hoje, é valorizar as pessoas pelo que são, não pelo que têm.

A esquerda de hoje é diferente da de ontem, mas é nessa mesma diferença que se torna essencial para a construção de um futuro de liberdade e sustentabilidade, semeada pela palavra e pela paz, pelo conhecimento e pelos valores de justiça social.

Hoje, sou de esquerda.

2 comentários:

  1. Confesso que depois de ler o teu texto tive que adiar a escrita do meu sobre o mesmo tema com medo de me agarrar demasiado ao teu.
    Não encontro melhor forma de o elogiar.

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    1. Muito obrigado Abel! Só posso ficar lisonjeado com esse comentário! Espero que, de alguma forma, este texto contribua para este debate tão actual.

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