quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A crise de identidade da esquerda

Há uns dias Manuel Valls defendeu retirar-se a palavra “socialista” do nome do Partido Socialista Francês. É compreensível e eu apoio. A hipocrisia já começa a ser demasiada.

Há semanas coloquei aqui um texto sobre o sectarismo da esquerda, sobre a prisão que a nossa esquerda vive às utopias do passado. Hoje, mais do que nunca, reforço essa minha posição. Não se fazem as perguntas certas, e a pergunta mais crucial de todas ainda está por responder: o que é ser de esquerda hoje?

Chega de pensar em revoluções à moda do séc. XX, de tentar reatar chamas que já nem acesas estão. Os problemas da sociedade de hoje são diferentes, muito mais complexos psicologicamente, muito mais difíceis de resolver. Não só pela complexidade do tecido existencial que os constitui, mas porque a mudança já não se resume ao nosso quintal e estende-se pelo bairro inteiro.
O Estado Social escandinavo é bom (segundo o meu próprio conceito de bom, que engloba questões como a intervenção do estado na proteção dos desfavorecidos, liberdade de expressão, fomento à educação, etc). No curto prazo, deve ser essa a referência para os combates a fazer. Mas infelizmente não chega. É preciso algo de mais radical mas ao mesmo tempo mais gradual e global. E quando digo radical, digo romper com os mitos bernsteiniano e soviético.
É preciso acabar com a hipocrisia que senhores como Valls personificam. Ser de esquerda é querer realmente progredir. E esse crescimento começa na própria autocrítica, na autoanálise. Começa por sermos francos connosco e aceitarmos o falhanço da esquerda tradicional. Seja por se ter desviado ideologicamente para o neoliberalismo e com isso ter perdido a personalidade, seja por ter ficado agarrada aquilo que fazia sentido no passado e que hoje toma forma num discurso descontextualizado e desligado da realidade, seja até, em último caso, por não assumir as responsabilidades criminosas dos regimes autoritários que criou e apoiou.

Por isso é que digo que está na altura de alargar o debate, de nos questionarmos e não termos medo de participar. A esquerda tem de ter coragem para participar no poder e com isso dar os primeiros passos para a transformação mas tem também de se questionar, tem de refletir e estudar, para quando chegar o momento do passo derradeiro, saber que tipo de sociedade pós-capitalista quer. Chega de reviver o passado.
Não chega reclamar pelas conquistas socioeconómicas do consenso do pós guerra ou insistir no mito comunista ortodoxo. A esquerda perdeu-se exatamente porque não soube debater sobre si mesma e compreender as transformações da sociedade, perdendo a pouco e pouco a sua identidade e o seu carácter progressista.

Chega de sectarismos à Estaline mas chega também dos Valls deste mundo. É preciso (re) ler o Marx, pensar pela nossa cabeça e construir a nova esquerda.


(Porque desde 1789 que aprendemos que a guilhotina nada resolve.)

domingo, 12 de outubro de 2014

O Estado somos nós

É difícil assumir a responsabilidade dos nossos atos. É difícil arcar com as consequências das nossas escolhas. É pesado o fardo de ser o único capaz de ultrapassar as nossas barreiras interiores. Mas mais difícil tarefa, é conciliar toda essa responsabilidade com o desejo fervoroso de ajudar os outros a assumi-la.

E nisto entra o papel do Estado. Mas qual é ele? Será apenas um Estado mínimo cuja função é atenuar as desigualdades e proporcionar aos desfavorecidos iguais oportunidades? Ou será algo de mais profundo, mais paternal, capaz de nos impedir de tomarmos caminhos que serão danosos para a nossa própria existência?

Na minha opinião, este debate é demasiado complexo para me poder limitar a dar uma opinião simplificada. Contudo, não quero deixar de expressar a minha visão sobre este tema.

Para mim, o Estado (essa entidade quase abstrata escondida atrás das longas filas de espera da segurança social e dos hospitais públicos) não é mais do que o conjunto de todos nós. É o conjunto de todas as instituições e pessoas. É a única entidade em quem podemos confiar exatamente por fazermos parte dela.

Mas terá o Estado de ter o papel paternal de nos impedir de seguir rumos que nos levam à infelicidade? Terá o Estado o direito de me dizer o que eu devo ou não fazer relativamente à minha vida? Por muito que nos custe ver um amigo numa relação amorosa complicada, nada saudável, temos o direito de lhe tirar a oportunidade de viver essa relação hedionda com o(a) parceiro(a)?  

Na minha jovem opinião, não. O Estado não pode ultrapassar o limite de “safety net”. Não tem o direito de ser o pai que nos dá ordens, mas tem o dever de ser a mãe que nos recebe sempre de braços abertos mesmo quando erramos. O Estado tem de ter paciência, tem de ser compreensivo, empático. Mas jamais pode ser autoritário, manipulador e moralista. O Estado jamais pode ter como missão incutir valores morais aos cidadãos.

Mas afinal, qual é a linha ténue que separa esses dois Estados?

Para mim essa linha é demasiado complexa para ser definida com meras palavras ou com réguas e esquadros. O papel do Estado tem que ser algo constantemente questionado, avaliado e melhorado. Na economia, por exemplo, tem de ser influente. Tem o dever de garantir aos que vivem em piores condições o direito a viver uma vida digna. Tem de garantir preços baixos (acessíveis a todos) nos sectores basilares da sociedade. Tem de ter um papel ativo.
Mas o contrário se passa quando tocamos nas tradições e na cultura. Não apoiaria um Estado que me ditasse que tipo de comidas eu podia ou não comer, mesmo tendo como fundamento as mais recentes descobertas ao nível da nutrição. Não apoiaria um Estado que me dissesse a que horas o meu filho se deve deitar, com que brinquedos deve brincar ou que roupa deveria vestir. Não apoiaria um Estado que me impedisse de ver filmes pró-fascistas, que me impedisse de me manifestar por mais radical que fosse a minha posição, que me impedisse de ler livros de movimentos totalitários, que me impedisse de criar o meu próprio jornal ou que monopolizasse qualquer meio de comunicação.

O Estado não pode nunca ser esse ser estranho que me vai ensinar a viver a vida. Mas tem de ser sempre aquela entidade que me permite vivê-la, independentemente da minha condição socioeconómica à nascença.
E seja qual for o Estado que tivermos, ele será sempre o conjunto de todos nós.


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Intolerância Moderada


  “Assim, cada um destes críticos indulgentes espera levar água ao seu moinho: regulação dos mercados financeiros, limitação dos prémios dos directores, abolição dos “paraísos fisceis”, medidas de redistribuiçãoo, e sobretudo um “capitalismo verde” como motor de um novo regime de acumulaçãoo e gerador de empregos. O caso está arrumado: a crise constitui uma oportunidade para uma melhoria no capitalismo, não para uma ruptura com ele.”

  “Mais do que um grande clash, podemos esperar uma espiral descendente até ao infinito, um abatimento perpétuo que nos dará tempo para nos habituarmos a ele.”

Anselm Jappe, em “Sobre a Balsa da Medusa”

  A questão da participação no governo está a criar uma cisão na esquerda. É uma questão pertinente, pois uma escolha ou outra têm resultados opostos se não contraditórios. Pelo menos nas circunstancias em que nos encontramos hoje.
  O Ricardo falou no perigo do sectarismo da esquerda, que seria a austeridade eterna, o domínio político da direita neoliberal e a descredibilização da democracia e da utilidade dos partidos. O sectarismo dessa esquerda 'radical' que se recusa à participação no governo. A outra esquerda, 'moderada', que deseja uma participação conjunta no governo, impensável sem a coligação com o PS, não é sectária, mas intolerante com a sua 'irmã radical'.
  Entende-se que, quando pela primeira vez nos últimos anos a esquerda (mais alargada) se tenta reunir e unir esforços, se fique frustrado por um dos sectores não estar interessado neste projecto. Mas é necessário compreender que as razões porque esse sector não o faz são válidas.
  Falo agora do perigo da coligação alargada de esquerda. Para o fazer basta fazer algumas alterções às ideias do Ricardo. O perigo seria: capitalismo eterno, o domínio político do centrão conciliador, a credibilização desta democracia e destes partidos.
  Porque a coligação não vai fazer qualquer ruptura com o sistema actual nem desafiar as instituições de Bruxelas, pelo menos não seriamente. A democracia está descredibilizada e com fundamento, porque de democracia pouco resta (bastam os números da abstenção para sustentar esta afirmação) e uma coligação deste género não é muito diferente da coligação presente. Não deixa de se enquadrar na rotatividade bipartidária PS/PSD, assim com a coligação com o CDS não quebra o cíclo do centrão.
  Pior é que a esquerda se continue a queixar de Bruxelas e da Merkel, quando esses são apenas  sintomas tardios de uma patologia conhecida. 
  "Seria muito mais giro e fácil mudar tudo duma vez só, se não vivêssemos na situação actual". Giro seria se nos anos das vacas gordas alguém tentasse dizer que o sistema capitalista não estava a funcionar bem e que deviamos abdicar dele. Se não se faz uma mudança radical (de raiz) em época de insatisfação e consciência das falhas estruturais do sistema, então quando se faz? Nunca, talvez. Mas então a mesma resposta serve para a pergunta 'quando acabará o capitalismo'?
  Admito que não querer alinhar num governo com o PS seja razoável, porque fazê-lo pode ser só legitimar o actual estado de coisas. Alinhar com um governo que pouco fará de ruptura. Não censuro quem não o quer fazer, da mesma forma que não censuro quem o tentará. Apenas porque admito a possibilidade de haver várias respostas a um mesmo problema. Espero que um governo de coligação alargada de esquerda ganhe as eleições, porque tenho a esperança de que será menos mau que o governo actual, mas não vejo nele nenhuma espécie de saída. Apenas uma espécie de bandaid numa ferida muito profunda.
  Marginalizar e rotular pejorativamente de radicais quem não o deseja só dificulta uma mudança séria. Se passados tantos anos de 1848 ainda não se percebeu que 'radicalismos' só nos levam ao fracasso, passados tantos anos desde 1789 já deviamos ter entendido que reformistas nos levam ao fracasso - hoje.
  

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Sectarismo na esquerda

Assusta-me o sectarismo. O pensamento dogmático. Vemo-lo nos neoliberais cegos por pressupostos e de mão dada com os grandes grupos financeiros mas também o vemos na esquerda. Sobre os primeiros já muito pensei, conversei e ataquei. Sobre os segundos começo agora a perceber o seu perigo. E este perigo atinge todos os cidadãos, não atinge só os próprios e os amigos.

Que perigo é este? O perigo da austeridade eterna e do domínio absoluto da política portuguesa pela direita neoliberal. O perigo da descredibilização da democracia e da utilidade dos partidos. E porque é que digo que o sectarismo nos leva a esse perigo? Porque uma esquerda presa a dogmas, a ideais e pressupostos (tão rígidos e falsos como os dos amigos de Friedman), sem coragem para arriscar a tomada do poder e a participação em governos de coligação, é a verdadeira morte do artista.

Diagnósticos? Já muitos foram feitos e todos sabemos a situação do país. Já muita gente se apercebeu do que se está a passar, dos constrangimentos que nos estão a ser impostos. Mas ninguém fala em soluções. Ninguém consegue apresentar soluções realistas e aplicáveis. Se eu queria que o mundo fosse diferente? Claro que queria, mas é a participar no governo que se dá os primeiros passos em direção a uma sociedade diferente. Seria muito mais giro e fácil mudar tudo duma vez só, se não vivêssemos na situação atual.

É uma pena que tantas esquerdas não compreendam o papel fulcral que têm a desempenhar no poder para realmente se sentir uma mudança positiva na nossa vida política. É uma pena que fiquem presos ao seu dogmatismo e arrogância de iluminados incompreendidos. De sonhadores que se recusam a arregaçar as mangas e trabalhar com as ferramentas que nos dão. E a pena que tenho não é deles. Daqui a uns anos é bem possível que venham a mudar de posição (dependendo do que os órgãos da direção lhes disserem para fazer). Tenho é pena dos portugueses que anseiam por um governo que seja capaz de mudar a vida no campo do que é possível e do que é viável, tendo em conta a nossa perda de soberania e as possíveis consequências de atos mais corajosos e dignos frente aos burocratas de Bruxelas.


É uma pena que passados tantos anos de 1848, ainda não se consiga compreender que os radicalismos só nos levam ao fracasso.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O Político ou o político?

O que é um político? Fiz esta pergunta a muitos camaradas, amigos, familiares e em todas as respostas notei um sentimento inevitável de tristeza, desilusão. Felizmente cada um tinha a sua própria interpretação do que é ser um político, mas todos partilhavam a frustração de já não existirem Políticos.
Para mim, um Político é alguém que quer participar na construção/manutenção da sociedade. É alguém que se sente obrigado a representar os seus pares, o seu povo. É alguém que considera que o seu maior contributo para a sociedade é trabalhando na organização da mesma. Vemos muito poucos desses Políticos. Mas vemos muitos políticos. Vemos muitos homens e mulheres capazes de sacrificar o esforço dos outros pelo seu interesse próprio. Vemos muitos homens e mulheres abusarem do seu poder única e exclusivamente para melhorarem a sua condição económica, mesmo que isso seja à custa de todos os que votaram neles. Vemos muitos homens e mulheres deturparem o sentido da sua posição, levando-nos a uma descredibilização perigosa do sistema da democracia representativa.
Tal como as pessoas com quem falei, pelo nosso país afora encontramos cidadãos desiludidos com os políticos, e com toda a razão. A abstenção fala por si e mostra-nos que os portugueses acreditam cada vez menos na capacidade dos políticos se tornarem Políticos e representarem honestamente e com seriedade quem neles depositou confiança.

Está na altura de exigirmos políticos mais sérios e que compreendam o sentido do seu papel, de nos tornarmos também mais ativos politicamente. A política é algo demasiado sério, tem que se ter Políticos.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O perigo do consenso

Após algum tempo sem escrever nada para o 1848, venho dar-vos aqui a minha opinião sobre um dos fenómenos que eu considero mais perigosos do nosso tempo.
John Stuart Mill defendia que a diferença de opiniões e o debate fundamentado que dela ocorria, quando era devidamente fundamentado, proporcionava aos participantes da discussão as várias visões da questão a ser discutida; que só se podia chegar à “verdade” após ter conhecimento das várias versões.
Já Friedrich Nietzsche tinha uma abordagem mais individualista, considerando que só o próprio deveria delimitar os seus limites, ultrapassando a moral e, por consequência, criar as suas verdades. No entanto estas verdades eram apenas aplicáveis a si próprio. O crescimento e a evolução residiam na capacidade de criar algo novo e só nosso.
Tanto em Mill como em Nietzsche, está expresso o ideal de um indivíduo capaz de criar a sua visão do mundo. Mesmo que difiram no meio para chegar a essa soberania, ambos consideram que acima de tudo devemos construir a nossa visão das coisas.
Recentemente, várias vezes, demais até, ouvimos os nossos políticos apelar ao consenso, com o intuito de transformar o debate público sobre a nossa política numa coisa supérflua comparada com as nossas grandes responsabilidades para com os credores ou com as instituições do mundo financeiro. Ora, é este tipo de consenso que eu reprovo.
A minha reprovação proveniente deste tipo de discurso reside exatamente no ponto convergente de Mill e de Nietzsche: Quando apelamos à submissão do debate político e da visão política de cada um a uma agenda ideológica, estamos não só a diminuir a riqueza do mesmo mas como estamos a impor uma “verdade absoluta” ou uma visão da vida aos outros. Estamos a atacar a democracia, estamos a reduzir a força da liberdade de opinião e estamos a propagandear a tirania intelectual (sendo o caso mais descarado o da Economia, manipulando as matérias lecionadas nas faculdades públicas com o intuito de reproduzir somente aquilo que é a ideologia política do governo).
Desta forma, lesa-se não só a riqueza do debate político e o seu papel de promover as diferenças intelectuais, como cortamos as possibilidades de cada um se afirmar pela sua visão do mundo e da vida, de cada um ter espaço para agir de acordo com os seus valores e princípios e de cada um poder criar algo de novo na vida política.

Estamos não só a empastelar o sistema político como estamos a cortar as raízes da riqueza da democracia. Ninguém quer 5 partidos a defender a mesma agenda, nem uma sociedade amorfa que não discute nada porque a dívida fala mais alto. Temos que combater este tipo de discurso. Temos de ser capazes de o por em causa, de apontar as suas falhas. Porque só desta forma conseguimos fazer ver a quem o defende que todos ganham mais com o debate e com a discussão.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

A febre da partilha

Hoje decidi escrever este parágrafo apenas para exprimir a minha repulsa com o tipo de informação que vejo a ser anunciada e partilhada pelos membros desta sociedade. Nós, os indivíduos que habitam o presente, somos privilegiados e dispomos de inúmeras formas de obter e partilhar informação mas, no entanto, cada vez que me ligo a este mundo virtual, seja através de redes sociais ou em supostos sites de informação deparo-me com informação inócua e irrelevante… Sempre fui da opinião que a partilha de informação é uma das nossas maiores armas para combater a ignorância e continuo a ser um crente nessa fé cega. Chamo-lhe cega pois não acredito agora que esta comunidade global se estimule num sentido que eu considere positivo, que de certa forma esta partilha de informação tem vindo a promover a ignorância e o tipo de informação que se partilha é escolhida de forma a diminuir a capacidade crítica do ser humano. Assim, desviando o intelecto humano de acções relevantes para o seu melhoramento e ocupando-o com temas que têm tanto de fútil como de desinteressante conseguem criar um batalhão de soldados do vazio. Sem saberem, fazem parte da infantaria, ou carne para canhão, ao serviço da sociedade de consumo.  A maioria dos utilizadores destas redes sociais, que beneficiam destas plataformas e podem assim partilhar informação com (quase) o mundo inteiro, fazem parte da chamada classe privilegiada, que dispõe de um tecto, uma cama, comida e ah, claro... de um computador com ligação à internet. Desta forma, estas plataformas de partilha são ocupadas pelos estímulos ao consumo. A nova onda de partilhas de fotografias do almoço, da vista de um café num miradouro ou da nova discoteca da moda veio infectar as mentes dos observadores das mesmas com a falsa necessidade de comer “aquela” refeição “naquele” restaurante ou de ir beber um copo “naquele” miradouro. Esta moda não apareceu de forma espontânea, foi pensada, desenvolvida e posta depois em prática pelas grandes cabeças de marketing desta nossa sociedade. Sei que enquanto utilizador destas redes sociais (tanto eu como qualquer outra pessoa) não passo de um mero peão no jogo deles mas se de alguma forma eu conseguir chegar à outra ponta do tabuleiro talvez tenha uma hipótese de tentar uma jogada surpresa, a da informação relevante! Claro que posso ser apelidado de controlador ou podem até apontar o óbvio, que a informação tem relevância e valores diferentes para todos nós, que hoje em dia temos a liberdade de expressão para dizer o que entendermos, da forma que quisermos mas, por favor, peço uma coisa apenas, valorizem o facto de a terem. Não a banalizem. Talvez tenha escrito isto porque estou farto de ver actualizações sobre o itinerário gastronómico de algumas pessoas e de saber a opinião de outras sobre o programa de ontem e até posso estar a ser injusto mas muitos escolhem usar esta liberdade para partilhar o conjunto novo que compraram e eu escolho usá-la para dizer a essas pessoas: NÃO ME INTERESSA. 

domingo, 1 de junho de 2014

O perigo do vazio

"The only thing necessary for the triumph of evil is for good men to do nothing"
Edmund Burke

Nestas eleições no dia 25 o que mais me preocupou não foi o avanço da direita radical e nacionalista, mas sim, a ausência de ideologia e o vazio das propostas dos Socialistas e Social-Democratas.

Estamos a viver uma era onde, devido ao golpe de estado de Maastricht, o avanço em políticas sociais é muito reduzido e dificultado A cada dia que passa, vemos as conquistas do pós-guerra desvanecerem-se algures pelos mercados. Vemos a xenofobia pelos países do sul ser fomentada não só por nacionalistas mas também por elementos de partidos do Partido Popular Europeu. Temos a confirmação da perda total de solidariedade quando a Fuhrer Merkel afirma que “a União Europeia não é uma união social”.

E o pior de tudo isto não é a afirmação do racismo ou da insensibilidade social, mas sim a ausência de uma oposição de esquerda, forte e democrática. O pesadelo iniciado por Tony Blair revelou-se muito mais que um pesadelo: foi o começo de um suicídio de identidade política.
Perante um cenário tão negativo e depois de anos de austeridade a destruírem a Europa, esperava-se que a Social-Democracia aparecesse a defender os valores do Estado Social, da solidariedade e da proteção dos desfavorecidos. Mas não. Em vez disso esvazia-se como um balão em discursos cinzentos e governos “à Hollande”. Não é capaz de se olhar ao espelho e refletir sobre si mesma. Com um vazio ideológico tão grande à esquerda, repleto de partidos incapazes de capitalizar o descontentamento das políticas neoliberais, as massas aderem a quem põe o dedo na ferida. Já todos o devíamos saber há muito tempo.

Seja, por isso, altura dos seguidores de Bernstein o lerem no original.

     

quarta-feira, 14 de maio de 2014

A construção da Liberdade para a autorrealização

A liberdade é um conceito muito complexo e não o irei discutir no seu todo. Quero apenas abordar uma das suas vertentes: a liberdade para atingirmos os nossos objetivos.

Qualquer ser humano nasce com interesses, sonhos, desejos mais ou menos realizáveis. Todos nós em pequenos “queríamos ser alguma coisa quando fossemos grandes” e muitas vezes imaginávamos como seria ser isto ou aquilo, algumas vezes até interpretando os nossos futuros “eus” em brincadeiras teatrais. Mas estes nossos desejos ao longo do tempo vão-se modificando, amadurecendo ou até mudando radicalmente. Com o passar do tempo e com o nosso caminho pela escola, vamos começando a equacionar hipóteses mais “realistas”, muitas vezes mais de acordo com as expectativas criadas em nosso redor. Mas também com o passar do tempo vamos percebendo que o nosso acesso a muitas dessas “profissões” está bloqueado. E muitas vezes, as razões para não podermos seguir os nossos sonhos são económicas.
Desta forma, podemos ver que, apesar de vivermos numa sociedade livre e democrática, muitos alunos não têm as condições económicas para poderem prosseguir os seus objetivos de realização pessoal. A liberdade de prosseguir os estudos está por isso limitada a alguns com certas posses económicas, não sendo uma verdadeira liberdade ao acesso de todos. A liberdade para podermos seguir os nossos objetivos tem por isso de ser construída, apoiada. Têm de ser garantidas a todos os indivíduos as mesmas oportunidades de aprendizagem, de crescimento e de realização pessoal, tendo o estado um papel essencial no garante de apoios para os alunos que pelos seus meios não têm capacidade para poder seguir os seus estudos. Desta forma, é fundamental construir os meios para todos poderem ter a mesma liberdade de se autorrealizarem.


A liberdade para alguém se autorrealizar tem por isso de ser construída, já que todos têm o mesmo direito a serem os grandes que queriam ser em pequenos.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Que nomes são estes?

Desde muito novo que a análise dos partidos políticos me interessa bastante. Sempre gostei de perceber a razão de se chamarem como chamam, os motivos que levaram à escolha de determinadas cores e até compreender a tradução prática daquilo que os seus nomes evocavam.
Rapidamente percebi que a ignorância, a mediocridade e os “lobistas”, do pouco que restava dessas tradições linguísticas, transformou estas siglas em meras siglas, ideologias em grupos de amigos e as cores não ultrapassavam a leve importância de fácil identificação.
Chegar a esta conclusão fez-me ficar triste mas também curioso.
Comecei por estudar o significado de Social-Democracia. Li Lenine e vi que era esse o nome da corrente política que mais tarde se organizou no Partido Comunista; estudei Palme e percebi a adaptação dos valores socialistas a uma sociedade capitalista democrática e o seu papel na educação e nas escolas; atentei aos registos do trabalho de Bruno Kreisky e compreendi finalmente o que significava ser Social-Democrata  relativamente  no apoio à investigação científica.
Até que olhei para Portugal…
Em Portugal qual seria o partido Social-Democrata? O que ostenta esse nome com toda a arrogância típica da pobreza intelectual dos políticos do séc. XXI? Ou o que se esconde atrás de uma “rosa” para tentar agradar a todos e proteger o seu núcleo?
“Então porque envergam os partidos estes nomes? Será que no passado eram coerentes entre a sua agenda política prática e a que ostentavam?” Pensava eu…
Pois bem, aí dei asas à minha veia historiadora e quis saber se os fundadores destes partidos eram verdadeiramente social-democratas. Estudei, li e fiz os possíveis por exercitar a minha mente numa viagem temporal até aos discursos de Mário Soares ou Francisco Sá Carneiro e encontrei neles uma riqueza intelectual que não se encontra hoje em nenhum dos seus partidos, mas não encontrei Social-Democracia. Não encontrei ideias para a construção de uma democracia preocupada em defender o Estado Social, em transpor os valores socialistas para a economia de mercado. Vi antes o oportunismo, o “lugar ao sol”, o marfim, o ódio aos comunistas e a proteção dos poderosos.
Aí compreendi que Portugal, apesar de ter socialistas e social-democratas, não tem nem nunca teve uma verdadeira Social-Democracia. Contente-mo-nos com comentadores da esquerda caviar? Com socialistas racistas? Com homens SEGUROS da sua pobreza intelectual e humana e prontos para fazer dela a arma bestial contra a democracia honesta e a Esquerda democrática? Com neoliberais que nunca leram Hayek ou Friedman e que se investem de austeridade como se nada fosse? Contente-mo-nos com uma “social-democracia” de laranja podre, com o seu conceito enxovalhado por uma corja de “meninós” que leram ontem o Diário Económico pela primeira vez?
Eu não me contento e, como cidadão, exijo que esses “social-democratas” dispam esse fato que não é deles, que vistam o fato-macaco do self-made man que, hoje, graças à diminuição da intromissão do seu governo chato e maçador, subiu na carreira e hoje serve às mesas.

Vão ler, vão estudar, vão ser empreendedores, mas não se digam o que não são.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Sem título: o tempo que passo no facebook não me permite pensar nisso

Sento-me para escrever sobre as declarações da Isabel Jonet e tenho dificuldades em começar. O asco que tal figura me causa tolhe-me o espírito. 
Não sou capaz de reagir com a seriedade científica com que vi alguns comentarem a triste verborreia. Dizem que Isabel Jonet não tem razão porque a grande maioria das oportunidades de emprego estão em fóruns online. Não contesto que tenham razão, não desconsidero o seu contributo para a discussão. Mas a contestação que a Isabel Jonet me merece não é do plano da ciência. É do plano moral. É nesse plano que combato tudo aquilo que Isabel Jonet representa. 
Não me lembro se assinei ou não a petição que pedia a demissão de Isabel Jonet do cargo de Presidente do Banco Alimentar. Lembro-me bem, isso sim, da revolta que me causaram aquelas declarações, das discussões ferozes que tive por causa delas e de ter tido a certeza que dali nada se podia esperar de bom. Seguiu-se uma entrevista em que Isabel Jonet dizia preferir a caridade à solidariedade. Queixava-se de ter sido mal interpretada na entrevista à SIC. Mas não perdia a oportunidade de fazer das suas de novo. 
Andou afastada e não tínhamos saudades. Mas na terça-feita veio a terreiro acusar os desempregados de passarem demasiado tempo agarrados às redes sociais, as suas maiores inimigas. 
O problema não está nas declarações em si. Está na concepção que lhes está subjacente e que representa o pior que a caridade nos oferece. 
Isabel Jonet é Presidente do Banco Alimentar. Presta a muitos necessitados um serviço de inquestionável valor. E acha que em função disso os pobrezinhos que ajuda são propriedade sua. Que sobre tudo o que se passa na vida deles pode opinar. Mais! Acha que lhes pode prescrever as condutas dignas de um pobrezinho que se preze. Não devem comer bifes, nem lavar os dentes com a água a correr (Como fazem os seus filhos. De resto, por serem seus filhos parece não fazer mal.), não devem ir a concertos e, sabemos agora, não devem perder muito tempo no facebook. 
Há uma bitola que pobre que é pobre tem de preencher para ser digno da ajuda que a magnânima Isabel Jonet, do alto da sua bondade e da sua superioridade moral, concede. Só assim não se deverá sentir culpado por ser pobre. Só assim será digno da esmola que recebe. 
As declarações sobre a inexistência de miséria em Portugal e sobre a irresponsabilidade dos pais que deixam as crianças irem para a escola com fome falam por si. 
Isabel Jonet é a afirmação do pior que a caridade comporta, é por isso que ambas têm de ser contestadas. 
A luta continua. Contra a fome e contra muito mais do que isso. 

terça-feira, 25 de março de 2014

Dívida e Desemprego, Saúde e Qualidade de Vida

  Raramente têm os governos posto tanto ênfase numa problemática de longo-prazo. Tudo se faz no curto e curtíssimo prazo em Portugal - "Precisamos agora, já! Consequências? Amanhã veremos o que acontece." E no entanto, quando falamos da dívida discutimo-la num prazo de trinta a quarenta anos (se não mais). Tanta discussão à volta da questão errada.
  Admitamos que é, de facto, possível pagar a dívida. Daqui a quarenta anos a dívida está paga, mas com que dinheiro? A economia contrai (salvo raros momentos), e não vai parar de o fazer porque os níveis actuais de desemprego não vão possibilitar crescimento tão cedo. Ao contrário do quadro que nos pintam, o aumento de exportações é mínimo e proveniente na sua maioria da refinaria de Sines. Superavit é um termo desconhecido para Portugal e assim continuará. Não geramos riqueza, pelo menos não suficiente. Só nos sobra uma hipótese, a mesma de sempre e que será o veículo para conseguirmos pagar esta dívida - pedir empréstimos. Não interessa que a dívida seja pagável, porque se algum dia pagarmos esta dívida, será a pedir emprestado: pagar a dívida com mais dívida.
  Agora analisemos o cenário oposto: não é possível pagar a dívida nos próximos cinquenta anos. É um cenário mais terra-a-terra, como diria um céptico, mais 'realista'. Não sendo possível pagar, temos que restruturar. Suavizar as taxas de juros e alargar a maturidade. Torna as coisas mais agradáveis, mas ficaremos décadas até a totalidade da dívida ser paga e com um orçamento limitado para estimular a economia.
  Não, não é solução suficiente. É absolutamente necessário que parte ou totalidade da dívida seja perdoada. Não é por sermos o país que se portou mal e não quer pagar, é por sermos o país que faz parte de uma UE que não se soube desenhar. E os arquitectos são precisamente aqueles a quem devemos dinheiro. Estes arquitectos quiseram chegar às nuvens com alicerces de madeira, mas quanto mais perto do céu, mais frágil está o edifício. Há três possíveis escolhas, continuar a construir com madeira até o prédio ruir, demolir a obra ou construir alicerces mais consistentes. A primeira escolha passa pela austeridade, a segunda pela cisão da UE e a terceira pelo perdoo da dívida. Não seria novidade, os próprios arquitectos já estiveram endividados e foram perdoados outrora, mas ser perdoado é mais fácil do que perdoar...
  Parte da dívida vai ser perdoada, disso não tenho dúvida, resta saber quando. O problema é que a cada ano que passamos com esta dívida mais frágeis nos tornamos e mais difícil será a recuperação.
  Contudo, há uma questão tão ou mais importante que a dívida - o (des)emprego. 

  Há vários aspectos que merecem uma discussão aprofundada no campo da criação de emprego, mas há um que me parece crucial e que não tem recebido a atenção que merece - a organização do tempo de trabalho.
  Nos últimos quarenta anos experienciámos uma centralização do trabalho no sector terciário.
  Por outro lado, a cada ano que passa, a mecanização vai substituindo o Homem. Perdem-se empregos para computadores e máquinas todas as primaveras.
  A população envelheceu mas não diminuiu substancialmente, a idade de reforma aumentou e durante muitos anos fomos um país receptor de emigrantes e não o contrário.
  Paira uma questão no ar. Se as máquinas vão substituindo os Homens e não se criam novos postos de emprego, com uma população activa crescente e uma centralização do trabalho nos serviços, como se pretende criar emprego?
  Saltando a discussão, vou considerar a ideia de crescimento económico continuo insustentável. Nesta lógica não me parece absolutamente necessário um crescimento desmesurado. Não será então altura de redistribuir o trabalho? Uma redução substancial no horário de trabalho semanal significa uma criação equivalente de emprego. É necessário re-desenhar o mercado de trabalho, pois quando falo de diminuição do horário de trabalho não falo em diminuição de remuneração, mas em manutenção da mesma, em período mais reduzido.
  A contrapartida vem com esta mesma medida. Se os custos de produção (salários) aumentam por um lado, os lucros acompanham por outro lado (incremento na procura) - é importante não esquecer que quem não tem trabalho não consome.
  É preciso abrir esta discussão, porque é de tempo livre que falamos, de qualidade de vida, de saúde mental e física. O desenvolvimento técnico e tecnológico não serve apenas para aumentar brutalmente a produção, pode servir para a manter com um custo humano menos brutal. Não é preguiça nem ócio, é a liberdade de viver sem ter que passar um terço da vida a trabalhar obsessivamente para pagar contas. (Os workaholics não se assustem, podem continuar a trabalhar nos tempos livres!)
  Já que a Europa não será o grande monstro financeiro que outrora foi, porque não investir numa Europa com qualidade de vida?
  Este debate é válido para Portugal e para qualquer país europeu, e é um dos passos para combater o desemprego e tornar o emprego mais humano. É um debate urgente!

sábado, 22 de março de 2014

Justiça e Liberdade

Justiça ou Liberdade?
Durante a última semana, refleti sobre esta questão. Até que percebi que não era uma questão, pois nunca estes dois princípios poderiam ser analisados como uma dicotomia. A sua cooperação é constante e fundamental para a maximização de ambos.
Sempre nos ensinaram que “a nossa liberdade acaba quando a dos outros começa”. E é aí que entra a justiça: na base do nosso projeto de ascensão a uma liberdade suprema ou absoluta, estão integrados valores de justiça que nos limitam e nos indicam e alertam para um “excesso de liberdade”. Mas o contrário não sucede. Ninguém nos acusa de sermos demasiados justos e de por isso interferirmos com a liberdade do outro. Desta forma, não poderíamos nunca entender como “ou um ou outro”, mas sim, a evolução e a construção de um, depende das limitações ditadas pelo outro.
Mas com isto, surgiu-me outra questão: então e qual é o limite que a justiça terá de impor à liberdade e em que critério se baseará esse limite? Pois bem, aí olhei para a mais rudimentar das situações e imaginei o que aconteceria se eu tivesse que sobreviver sozinho no mundo, sem mais um único ser humano vivo. Percebi rapidamente que não só as minhas capacidades intelectuais e emocionais ficavam afetadas gravemente, bem como a minha própria segurança ficava em causa. Portanto a minha sobrevivência como ser humano racional, mentalmente são e pensante, depende também da cooperação com o outro. Ora, se a minha liberdade não for limitada por valores de justiça (como por exemplo o direito à integridade física do outro e à sua dignidade), poderá tornar-se danosa para mim, chegando a um ponto autodestrutivo. Assim, eu tenho, por questões de sobrevivência, de limitar a minha liberdade para ela não se tornar a minha própria morte, interferindo no funcionamento do coletivo e atingindo-me indiretamente. Por exemplo, imaginando uma situação hipotética em que eu sou dono de uma empresa: se eu não oferecer um salário razoável, não perceber as diferentes capacidades e aptidões dos meus trabalhadores e não me esforçar para dar aos meus trabalhadores uma vida saudável, motivação e oportunidades de crescimento, estes poderão acabar por se desmotivar, diminuir a capacidade de produção, procurar outros locais de trabalho, reprimir a sua criatividade e/ou capacidade intelectual, levando a uma diminuição da capacidade de produção da minha empresa e, a longo prazo, levar-me a uma queda de lucros ou até nalguns casos, falência.
Essa limitação, terá de ter por base valores de justiça e de empatia, que me permitam viver em cooperação e fraternidade com o outro, respeitando os seus direitos e reconhecendo-lhe a mesma importância para a sociedade que reconheço a mim próprio. Mas precisamente um dos direitos básicos de justiça é o de reconhecimento de igual liberdade ao outro; de igual oportunidade independentemente da sua pré-condição natural, económica ou social. A liberdade está, também, inserida nos valores de justiça fundamentais para a coordenação da construção da nossa própria liberdade.
A justiça não é um caminho e a liberdade outro, a justiça é a base para a construção da liberdade e a liberdade é condição para uma verdadeira justiça.

Nunca uma pode ser deteriorada em nome da outra. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Non manifestat

O manifesto “Preparar a reestruturação da dívida para crescer sustentadamente” assinado por 74 personalidades portuguesas, vindas de campos tão separados ideologicamente, vem abrir mais uma ferida bem no centro da exponencial gangrena ideológica e suas instituições, que regulam o caminho económico levado a cabo em Portugal.

Uma solução que deve ser vista como parte do problema que a causou, por isso mesmo sem qualquer tipo de sustentabilidade, e que o perpetuará. 
De pouco servirá para chamar a atenção de um governo cujo mais alto representante apelidou os assinantes desse texto como “essa gente (…) irresponsável”, e do seu crescimento sustentado retira-se apenas a sustentabilidade do sistema causador e interessado na crise. 

É, no entanto, a forma clara e irrevogável – este é-o, garantidamente - do desabamento de qualquer tipo de apoio ideológico por parte de altas influências no meio do espectro político que paira por São Bento.

Recentemente, catedráticos de todo o mundo, conceituados por revistas da finança global e por altos cargos no FMI e outras organizações sui generis, vieram a público acompanhar a ideia assinada pela “gente” de Passos Coelho, que não são mais do que portugueses preocupados com o caminho direccionado ao abismo que Portugal toma ao seguir a rota do rudimentar GPS mercantil. Afirmaram, subliminarmente, que chegou a altura de o Governo ser corrido do poder de decisão.
O manifesto dinamizado por João Cravinho e Francisco Louça ultrapassou, assim, fronteiras de apoio.

Se, até ao momento, das ruas não se conseguiu atear a chama da mudança, surge, tarde, dos mais variados sectores da sociedade, uma voz de ruptura contra o caminho até agora seguido pela troika e o seu obediente animal doméstico governativo. Este manifesto que, não trazendo nada de novo, afirma-se nos media como a solução ideal e, imprudentemente, como a única, será, juntamente com o governo, arrastada pela teia sistémica neoliberal. 
A hipótese de anular a dívida ficará com lugar marcado nas manchetes jornalísticas quando a reestruturação, se se der, levar o país a um estado de afogamento social. 

Desta perigosa e sedutora solução chegamos a um ponto onde responsáveis políticos passeam, mais um pouco, na doente caminhada pelo infinito da estupidez humana ao não saírem simplesmente de cena.


Nós, que sustemos o palco do capital, por outro lado, não vamos a lado nenhum. Para o bem e para o mal.

Manifesto: Preparar a reestruturação da dívida para crescer sustentadamente (na íntegra): http://www.publico.pt/economia/noticia/manifesto-preparar-a-reestruturacao-da-divida-para-crescer-sustentadamente-1627870?page=1#follow


Manifesto da dívida recebe apoio de 74 economistas estrangeiros: http://www.publico.pt/economia/noticia/manifesto-da-divida-recebe-apoio-de-74-economistas-estrangeiros-1628981?page=1#follow



sexta-feira, 14 de março de 2014

Triste dia este

  Triste dia este.
  Triste dia em que o Parlamento português chumba um diploma desta natureza. Todos os votos contra a co-adopção pertencem à coligação que nos governa. Hoje mais do que nos últimos tempos não merecem respeito.
  Já nos vamos habituando à destruição do Estado Social e ao masoquismo económico do governo. Hoje não destruíram nada, impediram a criação.
  Toda a alma que votou, imbecilmente, contra a co-adopção assume-se como homofóbico. É homofobia que está expressa no voto contra. É discriminação. Quem votou contra assume-se como inimigo da liberdade e da igualdade, porque é de liberdade e de igualdade que este voto se trata.
  A política que este governo tem praticado irrita, aborrece, frustra. Hoje envergonham. Insultam a liberdade de sexualidade, cospem na cara dos homossexuais. O que lhes dizem é simples: ‘podes ser homossexual, e até te deixamos casar, mas dada a tua condição, és incapaz de cuidar de uma criança’. Todo o casal que deseje adoptar continua a ter que contornar a lei, porque esta o discrimina. Como o disse Alessandro, hoje é mais uma mancha neste início de século.
  Ser conservador é uma escolha que respeito muito, mas conservem o que existe de bom, não conservem o estrume da sociedade portuguesa. É inútil ser politicamente correcto face a este grupo de imbecis. Não há palavras doces, ou necessidade de me alongar mais do que isto. Mais vale ser directo e dizer a verdade - hoje preserva-se merda.
  Triste dia este.

  

"Não passarão!"

Olhar para a situação em que o PSD vive hoje e não lhe reconhecer um mérito é falta de seriedade. Refiro-me naturalmente à unidade. O PSD afina hoje em grande medida pelo mesmo diapasão.
É recuar três anos no tempo para nos lembrarmos de um PSD fragmentado em que os líderes se sucediam a uma velocidade superior à dos governos provisórios no PREC.
Infelizmente afina pela nota errada.
O episódio do chumbo da co-adopção no Parlamento não espanta. Espantaria se fosse aprovado. Não porque a questão não seja digna de merecer todo o empenho num voto maioritariamente (senão mesmo unanimemente) favorável mas porque a orientação de voto de muitos dos Deputados do PSD, cujos votos acabaram por ditar o chumbo, vai na esteira da mediocridade da acção deste grupo parlamentar.
O PSD está unido e é coerente. Na mediocridade.
Poder-se-ia dizer que o epicentro de tudo isto é Hugo Soares, sobre cujas qualidades políticas não me posso pronunciar. Os qualificativos que ele me merece, em nome do respeito que tenho pelo espaço público, não os posso transmitir aqui. Mas seria irrealista pensar que o fedelho tem peso para tanto. É só mais um rosto.
No fundo a origem deste mal está no desprezo que o Parlamento, a sociedade civil, as pessoas (aquele espécime dos pesadelos do Luís Montenegro) e as boas tradições democráticas merecem a esta gente.
As famílias cuja circunstância este chumbo lesa merecem-me o maior respeito, a sua luta merece-me o maior empenho e comungo com elas de uma grande revolta.
Mas este episódio representa bem mais do que parece. Este momento é bem mais do que o chumbo do diploma da co-adopção. É mais um ponto baixo na triste história deste início de década.
Aquilo que começou por ser uma brincadeira de um gaiato para distrair da discussão do Orçamento de Estado (que já era em si uma brincadeira de muitíssimo mau gosto) acabou por representar uma oportunidade de luxo para submergir o pior que este PSD é capaz de fazer.
Desrespeitou os trabalhos parlamentares porque desconsiderou o trabalho de muitos deputados, nomeadamente os seus, que ao longo de meses se empenharam na construção de uma solução séria e estruturada e que pudesse merecer o apoio de todos, desrespeitou a sociedade civil que de disponibilizou a participar na discussão e o fez de forma exemplar, desconsiderou o Parlamento por entender que uma decisão sua não teria legitimidade suficiente e no fim fez o que sabe fazer melhor: ignorou a realidade das famílias que o diploma protegia e chumbou-o. Não conheço o motivo.
Fez aquilo que desde 2011 faz ao país todo. Esmaga e fecha-se sobre si em festas animadas algures num coliseu. Para a próxima ocasião sugiro como banda sonora a "Entrada dos gladiadores", de Julius Fucik.
A luta continua! Pela co-adopção e por bem mais do que isso. "Não passarão!" (Dolores Ibárruri)

quarta-feira, 12 de março de 2014

Dos paladinos do "custe o que custar"

José Gomes Ferreira, com o estrondo que a sua inteligência lhe permite, veio reagir ao manifesto que 70 individualidades subscreveram em nome da reestruturação da dívida pública.
Está muito ofendido e amargurado.
Reage de dedo em riste, em tom acusatório, pela responsabilidade que os subscritores, sobretudo os do PS claro está, têm no estado a que Estado chegou.
José Gomes Ferreira compete com Camilo Lourenço no exercício de porta-voz oficioso do Governo. E é diligente. Acontece que desta vez se saiu particularmente mal.
Não tanto porque se demarque do manifesto. Parece nem sequer discordar da necessidade de a dívida se reestruturar. Só não gosta da forma como os subscritores pretendem fazê-lo.
É um democrata de pacotilha. Veja-se que assume a necessidade de a dívida ser reestruturada, assume que o Governo o tem feito, mas entende que reestruturação bem feita é aquela que ocorre no silêncio dos gabinetes.
Luís Montenegro faz doutrina a uma velocidade impressionante. A boa política, pensam estes iluminados, faz-se onde a populaça não a possa acompanhar. Malditas pessoas. São um estorvo.
No fundo compreende-se. Uma reestruturação feita em plena luz do dia demonstraria à exaustão que a esquerda, uma certa esquerda, teve razão antes do tempo. E bem sabemos que já estamos em período eleitoral. Para as Europeias, é bem verdade, mas também para as legislativas, não nos iludamos.
Escuda-se atrás da reacção do Partido Socialista e (mais!) usa-a como argumento. Pois parece-me que tem andado distraído. Não se apercebeu das abstenções violentas, da forma como o PS votou o Tratado Orçamental nem tão-pouco das posições do PS em matéria de revisão do Código do Trabalho. É precisamente em nome da manutenção desta linha de oposição frouxa, e que justifica de resto os resultados paupérrimos que o PS tem tido nas sondagens, que o PS reage não reagindo. Não é vontade de cair na boa graça dos credores. É incapacidade de fazer melhor.
Mas verdadeiramente lamentável é a baixeza de nível com que se dirige à geração dos subscritores.
Gomes Ferreira, como o Governo, vive para dividir. Este é o clássico confronte entre gerações. Entre os autores de todos os males e as vítimas de todas as desgraças. Não acompanho. Não posso acompanhar. Porque as soluções não se podem fazer às custas de uma cisão social. Porque a resposta não está neste confronto. Porque aos erros cometidos por essas gerações somo também muitos méritos.
Acontece contudo que nunca nenhum Governo uniu tanto a sociedade portuguesa como este. E o consenso existe: assim não vamos a lado a nenhum. Só o Gomes Ferreira é que ainda não percebeu isso.




quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Empatia

O que é a empatia?
O que significa?

Para mim, a empatia resulta da capacidade de compreender a situação psicológica, emocional e social do outro, relacionando com uma atitude dele, com o objectivo de perceber as razões que o levam a tomar essa atitude.
Resulta do esforço de um para perceber o ponto de vista do outro, mesmo quando o egoísmo nos puxa para uma visão limitada da realidade.
Só é vivida e sentida quando compreendida e incorporada no nosso dia-a-dia. Se não ultrapassa o estágio intelectual e não é verdadeiramente visível em todos os pequenos detalhes da nossa vida, não é mais do que um sentimento intelectualizado que, para ser sentido, tem de ser pensado.
Este esforço só acaba quando a empatia é o "caminho certo". Quando em todas as nossas relações sociais temos em conta o background do outro. Quando em todas as situações vemos a "cara" e a "coroa" e não agimos sem antes ver os dois lados da moeda.
Não é um dar esmola porque sente pena de outro. É um ter em conta quem é o outro, que esse outro tem a sua vida, a sua personalidade, as suas emoções, os seus sonhos, os seus medos e que não é apenas mais um. Empatia é ultrapassar o egoísmo que nos leva a pensar só no nosso lado e na vantagem ou desvantagem que temos sobre determinada situação. Empatia é a consciencialização da importância de pensar em coletivo, mas sem perder a individualidade de cada um.
É urgente uma onda de empatia. É urgente que comecemos a pensar nos outros como pessoas iguais a nós, com a sua própria visão das vida. Se não somos empáticos, não sabemos viver em sociedade. Porque uma sociedade que se baseia no egoísmo e na avidez, não é para pessoas.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Crescer?

O que é crescer?
Em miúdo o significado era simples, fácil de entender. Podia-se resumir a aprender a nova tabuada ou mesmo só a ter a altura do colega mais velho. Mas quando a idade avança, o significado fica mais vago, menos direto e mais complexo. Começamos a evocar diferenças no crescimento intelectual dos alunos para justificar as avaliações díspares entre eles. Começamos a falar de maturidade emocional quando nos vemos em relações sociais de menos linear entendimento. Até falamos em "crescimento" quando nos referimos ao aumento da produção de uma empresa ou de um Estado. Mas será que estamos realmente a ver o crescimento tal como ele é?
Será que fantasiamos, tal como em crianças, com uma idade adulta, perfeita, cheia de possibilidades imaginárias que agora, nesta fase de "crescimento", não temos acesso?
Será que imaginamos um mundo de evolução avançada, de conhecimento profundo, de tranquilidade, surgir naturalmente sem compreendermos que esse estágio só é vivido quando fruto do nosso próprio crescimento humano?
Será que ficámos presos à infantil fantasia de que bastava cabular para passar de ano?
Vejo muito poucos crescerem e crescerem com vontade de crescer. Não com vontade de ver os anos passar mas de melhorar o que eram antes. De aperfeiçoar um ideal, de desenvolver capacidades empáticas, de evoluir a capacidade de ouvir e saber corrigir o nosso próprio erro, de se desapegarem do materialismo e valorizarem o Humanismo.
Até nos Governos podemos observar isso mesmo com a obsessão da necessidade de um "crescimento económico", sem sequer antes se perceber que não necessitamos de produzir mais do que necessitamos para cumprir as nossas satisfações de bem estar material e que esse "crescimento" de que tanto falam, não passa de um acumular de excedentes não fulcrais para o nosso verdadeiro crescimento humano e civilizacional.
Cabe a todos encontrar o seu próprio crescimento. A sua auto-estrada de vivências que levará a uma verdadeira evolução da pessoa que cada um é, fazendo de todos um coletivo mais crescido e evoluído. Crescer não é ficar mais velho. Crescer não é ficar mais rico. Crescer nem sequer é ficar mais alto. Crescer é ficar mais perto de se ser feliz.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Eu vivo numa ditadura

Vives numa ditadura,
onde te tiram a alma pura.
Porque quanto mais a dívida,
mais a vida é dura.

Eu vivo numa ditadura. Uma ditadura sádica pois tal como Marquês de Sade, ela procura a felicidade através da exaltação da força e da satisfação de prazeres violentos. ´
Mas não é fascista. Muito menos "comunista". Ela é "democrática". Ela é a favor da liberdade de todos. Ela é a favor do dinheiro e da exploração do trabalhador. Ela é a ditadura financeira. 
É o sistema perfeito para o rico em dinheiro. Ela obriga-te a pagar para sobreviveres. Obriga-te a pagar a água que bebes. A pagar o abrigo que te protege. A pagar o teu desenvolvimento intelectual. Ela esconde-se através da "segurança nacional", do "anti-terrorismo", da "liberdade de expressão" (imagine-se!). Ela é hipócrita. Ela manipula. Manipula o teu objetivo de vida, o teu sonho, a tua vontade, a tua noção de felicidade, as tuas relações sociais, a tua visão do outro, torna a tua empatia nula! Tudo em nome da liberdade. Qual liberdade?
A hábil manipulação da opinião dos mais fracos em nome da sua liberdade de decisão. A manipulação das vontades do consumidor em nome da liberdade comercial. A destruição dos valores de solidariedade em nome da divisão de trabalhos. A destruição do amor e da partilha de emoções em nome do estatuto social. A destruição total e a deturpação de todos os sentidos do trabalho e do crescimento humano em nome do salário.
Se isto é viver num mundo livre, onde todas as minhas vontades, os meus gostos, as minhas ideias, as minhas amizades, os meus interesses estão sujeitos a um constante teste da sua unicidade, verdade para provar que são produto do meu pensamento crítico e da minha auto-consciência, então que façamos uma revolução, para matar a fome de vida a este povo.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Uma crise de alternativas

A esquerda portuguesa volta a estar na ordem política do dia com a cisão - pois disso se trata – ocorrida entre movimentos políticos e sociais onde se incluíam o Manifesto 3D, o Bloco de Esquerda, o partido Livre e a Associação Renovação Comunista, que não chegaram a um acordo de convergência para a criação de uma lista comum a apresentar nas próximas eleições europeias.

Foi com algum pesar que me deparei com esta notícia. No entanto, e infelizmente, não me surpreendeu.

Se, por alguma oportuna razão, a coligação financeira que governa Portugal fosse abaixo, ficaríamos num perigoso limbo político que tanto poderia tender para uma ainda maior dependência dos mercados e das vontades da finança internacional (o pouco que resta de bens públicos à mercê da maior oferta), como para uma liberdade político-económica fantasma na vanguarda Europeia.
Pondo os factos em cima da mesa, em 2015, o Partido Socialista ganhará as eleições.

Sem maioria, o PS procurará, nos meandros da sinistra e suja rede política portuguesa, uma muleta de fácil controlo, que sirva de fachada na alternância de poderes dos actuais intervenientes de uma democracia directa que tudo faz para disfarçar - e desviar-se - dos sérios problemas que enfrenta.
Com maioria, terá como base de propaganda o crescimento económico e um primeiro-ministro (Seguro?) que surgirá com pompa e circunstância e avisará sorridente que depois da tempestade chegara finalmente a bonança, distribuindo aumentos de pensões, de reformas e de subsídios como agradecimento pelo voto de confiança. 
Em ambos os casos, escusado será dizer, permaneceremos na mesma linha de subversão ao capital e expostos à sua famosa e corruptível mão invisível.

Estamos, neste momento, perante a fase mais decisiva da nossa saúde social desde 1974 e não temos uma alternativa coerente de poder, apesar de termos individualidades com as capacidades  necessárias para suportar esse encargo. Parece-me evidente a necessidade de uma alteração profunda, diria até radical, do comportamento político à esquerda em Portugal.

Depende de nós, porém, filhos da revolução da Internet, encontrar uma alternativa política sustentável numa sociedade em constante mutação onde, pela primeira vez na história da Humanidade, é possível propagar toda e qualquer tipo de informação a um simples clique de distância.


Humanamente responsáveis, aproveitemo-lo.



sábado, 4 de janeiro de 2014

Nuno Melo e a cristandade

Tenho faltado ao compromisso de escrever para este blogue.
Seria aldrabão se dissesse que a minha falha se deve à falta de pretexto. Não deve. Até porque no que toca a meter água a direita não falha. “Malhar na direita” tem por isso tanto de fácil como de imperativo.
É fácil porque eles se põem a jeito; imperativo porque nas mãos deles nem os mais elementares mecanismo de salvaguarda da democracia estão a salvo.
Dúvidas existam e basta ver o que diz hoje o Eurodeputado Nuno Melo em entrevista ao i.
Nuno Melo, esse grande vulto do centro-direita e que se preparar para ser o homem forte da direita portuguesa no Parlamento Europeu, vem dizer que o Tribunal Constitucional é um problema para Portugal. Não lhe bastava ficar conhecido por um arrufo parvo com a Edite Estrela…
Não se fale da forma paroquial com que olha para as questões europeias porque aí o que está dito responde por si.
E porque é o Tribunal Constitucional um problema? Porque não permite cortar na despesa, diz ele.
Impõe-se a questão: que despesa? Aquelas gorduras do Estado que estavam já localizadas pelos partidos da coligação? Que iam ser desbastadas sem impacto na vida dos portugueses? Que constituíram o essencial das promessas eleitorais da direita?
Parece que não… Não tenho na memória nenhum acórdão do Tribunal Constitucional que tenha impedido o corte dessas gorduras. A menos, claro está, que as pensões de reforma sejam, para Nuno Melo, “gorduras do Estado”.
Nuno Melo é também parte de uma direita que se vitimizou a si mesma com a sua demagogia, com as promessas da solução fácil, com a cultura da irresponsabilidade pelas decisões que tomas.
Viva o Tribunal Constitucional!
Porque é o garante do respeito pelos princípios essenciais do Estado do direito democrático. Porque assegura o cumprimento das obrigações que o Estado contraiu com os mais fracos. Porque está sozinho nesse combate. (E já agora pelo impacto que as suas decisões tiveram na melhoria dos indicadores económicos.)
Quando perguntam a Nuno Melo “onde está o lado cristão do CDS?”, ele responde: “O cristão, desde logo, honra os seus compromissos e não se permite destruir um país na base da demagogia, afirmando, quando a bancarrota já está à vista, que gastando-se mais dinheiro se vai fazer bem a alguém. O cristão é aquele que é capaz de gerir com bom senso e com verdade recursos que são escassos, acreditando que os próximos tempos serão melhores. O cristão não mente.”
Estes cristãos honram os seus compromissos, é bem verdade. Com os mais fortes, os ilustres “credores oficiais”, como sempre se referem a eles pomposamente os membros do governo. Já assim não é com os pensionistas, os funcionários públicos. Com esses parece não haver compromissos a honrar. Triste cristão este que se verga perante o forte e é implacável diante do fraco.
Estes cristãos não mentem! Só revogam decisões e compromissos irrevogáveis.
Triste cenário nos oferece este centro-direita. Paulo Núncio dizia há dias que Paulo Portas é o melhor líder que o centro-direita já teve.

Convenhamos que os liderados não são o melhor do resultado da sua liderança.