quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Partido LIVRE e Tavares

 Rui Tavares avança com a criação de um novo partido. É um partido que se situa no 'centro da esquerda' e cuja declaração de princípios nada de novo traz.
 O vazio partidário de que Rui Tavares fala é real, situa-se entre o BE e o PS. É real, não porque o BE se radicalizou, mas porque o PS se divorciou de qualquer ideologia e como resultado tornou-se um partido flutuante consoante as circunstancias (acima de tudo consoante a posse de poder ou falta deste). Para além de real, creio mesmo que é um vazio significativo no que toca a eleitorado.
 Precisamente por haver esse espaço vazio é necessário que alguém o ocupe.
 Para pena de muita gente, o PS não o vai ocupar tão cedo. O BE não tem condições para abranger um eleitorado desta natureza, pelo menos não por enquanto. Surge então Rui Tavares.
 Falo em Rui Tavares porque até ao momento não há mais nenhum nome seguro a associar ao novo partido. É arriscado e ousado arrancar assim. É um arranque fraco e pouco consistente, quase incompreensível. Talvez seja uma forma de jogar com as nossas expectativas.
 Como se não bastasse, os três objectivos do partido são tão abstractos que é difícil perceber o que o torna diferente do Bloco de Esquerda. No website do partido tudo é confuso num design simples, elegante e intuitivo.
 Há um ponto que me parece importante mencionar - a disponibilidade para coligações abertas à esquerda. Só este aspecto dá algum sentido ao LIVRE e o torna numa ferramenta que pode ter alguma relevância política. Se conseguir moderar o debate entre o BE e o PS e fomentar coligações, é um partido que introduz uma nova dinâmica, mas arrancou com o pé errado. A reacção do BE vem da Catarina Martins num tom crítico, acusando Rui Tavares de estar a fazer competição à esquerda. Este partido não surge por motivos de concorrência, mas pela incompetência dos partidos já existentes. A resposta do BE não devia ser de hostilidade, mas de hospitalidade. Só essa atitude reflecte o seu discurso unificador desde a tomada de posse dos dois coordenadores. Como se une a esquerda se assim que surge um novo partido é criticado de ser concorrente em vez de ser aceite como cooperante?
 Por enquanto nada surpreende e nada é novo, é só mais do mesmo. Veremos se pelo menos no método surge alguma inovação.

 Através do LIVRE, a Joana Amaral Dias volta a aparecer na cena política (o que pouca satisfação traz a quem quer que seja) e pode ser que Rui Tavares consiga mais um mandato como eurodeputado depois de ter 'queimado' o anterior promotor...
 Esperemos que não seja esta a razão de ser deste novo partido.

4 comentários:

  1. Só tenho a adicionar que a posição europeísta é algo diferente e mais definida do que a de outros partidos (e é interessante e constitui portanto algo de relevo). Eu estive presente na apresentação e esse assunto foi bastante debatido. Parece-me ser a única lacuna deste texto.
    Vou tentar ir passando por aqui!

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  2. Obrigado Zé. Difere muito da posição do BE, no que toca ao europeismo?

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  3. Se é (mais ou menos) verdade que "o PS se divorciou de qualquer ideologia" acho que a este diagnóstico do vazio partiário - muito correcto - que fazes, tens certamente que juntar o também vazio em que o BE se tornou, ainda mais evidente desde a saída do Louçã.

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  4. Não mencionei porque não creio que haja alguma mudança significativa no BE, nem com a saída do Louçã. Provavelmente esse é o problema.
    O que vejo no BE não é um deslize, mas um afastamento.
    Diria que quem deixa de votar no BE fá-lo porque, embora ainda se identifique com o partido, pára de acreditar que faça diferença; quem deixa de votar no PS fá-lo porque não se identifica com a diferença que faz. São situações diferentes.
    Mas sim, o BE é também responsável por esse vazio. Mas creio que é substancialmente menos responsável. Pelo menos quantitativamente.

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