sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sobre Esperanças e Sectarismos


  A vitória do Syriza é uma vitória de todos os que se opõe à Europa do século XXI. De todos os que se opõem à austeridade. De todos os que põe as pessoas à frente do capital. Talvez não satisfaça os puristas, talvez não venha a ser o que parece, talvez haja incongruências; mas não há nada que lhes agrade, não há nada que venha a ser o que se planeou, não há nada que seja coerente em absoluto. Sou obrigado a subscrever o Zizek quando afirma que o Syriza foi a esquerda que teve a coragem de largar o conforto do confronto marginal para arriscar tomar o poder. Pode ser um conforto com objectivos mais “complexos”, mas é um conforto. Sem conotação positiva ou negativa, apenas como facto.
  Sou da opinião de que há soluções diferentes para o mesmo problema, e apoio as várias tentativas. A tomada do poder mantendo a mesma matriz institucional seguramente não me parece a melhor estratégia a longo prazo, mas 300 000 gregos têm agora acesso aos serviços mínimos que antes não podiam pagar. O funcionário do Pingo Doce grego ganha agora quase mais 200€ que antes. Se no longo prazo esta pode não ser a melhor estratégia, no curto prazo é uma vitória inigualável na Grécia. Pelo menos para aqueles que lá vivem.
  Para além disso, abrem-se mais portas. A esquerda radical está a conseguir recuperar espaço político na Europa. Acima de tudo está a conseguir, lentamente, equiparar o seu crescimento ao da extrema-direita, o grande perigo que enfrentamos agora. O timming também é o certo, a menos de um ano das legislativas espanholas, a vitória do Syriza pode ser a garantia do Podemos, e pode ser o apoio de um possível Costa na Europa ou, num cenário ambicioso, o impulso que falta ao Die Linke ou ao BE. Não falamos de paraísos, mas de uma europa menos infernal. É nesse sentido que estas são, incontornavelmente, vitórias.
  Falamos de partidos populistas? Sim. Mais uma vez, a via do populismo de esquerda não me parece a mais bela, mas se for esse o meio para melhorar francamente a vida de uns milhões de pessoas, que seja.
  Não são as vias e soluções que mais apoio ou nas quais deposito mais esperança, mas julgá-las sem lhes conceder crédito é simplesmente triste. Entristecem-me aqueles que não conseguem mais que tecer críticas sem conceder créditos, aqueles que não conseguem conceber mais do que duas cores, que não percebem que o mundo não é preto no branco e que é precisamente nas tonalidades que reside o valor das coisas.
  Prefiro o branco, mas na impossibilidade de o obter, prefiro que o cinzento seja claro.
  Agora, resta-nos esperar. No meu caso, espero que o Syriza consiga ser bem sucedido naquilo a que se propõe, aos sectários de esquerda que lhes desejam mal, precisamente por o fazerem estão um passo mais longe de serem bem sucedidos nas suas próprias lutas.

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