terça-feira, 27 de outubro de 2015

O erro de Marx

Já muito tempo passou desde a minha última publicação no blogue. Não que tenha deixado de acreditar na importância da partilha de opiniões, antes pelo contrário, senti um imperativo de reflectir e estudar de forma mais profunda algumas matérias.
Karl Marx foi, para mim, dos filósofos que mais influenciou o estudo da sociedade e do seu funcionamento. Não apenas da capitalista, mas de como os homens se movem. Aquilo a que Karl Popper chama do economismo de Marx, a sua tese de que são as relações de natureza económica entre os humanos que em última instância definem as coordenadas da sua relação em sociedade. Mas, na minha modestíssima opinião, é precisamente aqui que reside um dos seus erros.
Theodor Adorno e Max Horkheimer, na sua obra conjunta "Dialéctica do Esclarecimento" definem o conceito da realidade social como totalidade, isto é, como um conjunto de diferentes factores, materiais e meta físicos. E devemos pegar na sua análise para poder corrigir a teoria marxista.
Uma vez que a atribuição de sentido pertence ao campo subjectivo de cada um, e que esse campo subjectivo, pela unicidade das suas vivências, é único e imprevisível, o impacto desta imprevisibilidade na atribuição de sentido é também ele imprevisível. A vontade de um grupo de indivíduos que se une por uma causa que seja transversal à sua condição social e que una pessoas de diferentes meios económicos pode, por exemplo, superar as relações económicas estabelecidas indirectamente entre si. A História, quando não é lida retroactivamente, está repleta de acontecimentos que surgiram por factores muito mais complexos que a simples vertente económica. As próprias condutas éticas e as diferentes percepções em relação à riqueza material entre as diferentes sociedades ocidentais europeias, e a própria variedade de concepções dentro de cada sociedade, demonstram que a atitude perante a solidariedade, a xenofobia, a família, a pobreza, dependem de muito mais factores que simplesmente a relação económica entre os indivíduos. Olhando para a situação de hoje, devemos, por exemplo, procurar entender os conflitos "Europa do Sul vs Europa do Norte" para além das questões económicas; como também devemos procurar entender os meandros psicológicos e sociológicos que levam a um crescimento do anti-comunismo na Europa de leste sem cair nas mesmas explicações simplistas acerca do impacto da sua economia mais lenta e menos modernizada ou do aparelho de Estado mais ou menos controlado por interesses particulares que não gera a qualidade de vida esperada depois da queda do socialismo.
Se queremos realmente compreender o funcionamento da sociedade devemos ser capazes de incluir no nosso estudo todos os factores de ordem qualitativa que nos influenciam e que nós próprios criamos para dar sentido à realidade. Temos de ser capazes de compreender a complexidade do universo subjectivo de cada indivíduo e a consequente complexidade das relações resultante desta subjectivização.
Concluindo, para sermos capazes de construir a sociedade pós-capitalista, a nova utopia da esquerda, temos de assumir a responsabilidade de sermos os mais críticos de Marx, de Lenine, de todas as experiências falhadas de socialismo real e de todas as abstracções teóricas que levaram a esquerda para o beco sem saída em que se encontra hoje.
Falar de "socialismo" sem antes condenar de vez os crimes cometidos por esse nome e sem assumir o falhanço é o acto mais ridículo e superficial que se pode ter. A esquerda tem de ser corajosa e intelectualmente honesta. Tem de ser capaz de assumir os seus erros e as limitações das interpretações anteriores do que deve ser a sociedade não-capitalista.
Se queremos levar o trabalho de Marx para a frente há que assumir e apontar os seus erros, corrigi-lo e honrar as suas limitações.  

1 comentário:

  1. Acha que a Esquerda está num beco,sem saída? Pergunte ao Cavaco,ao Coelho,à Catherine Deneuve. Estão assustadíssimos com a maré de III Internacinal que vai desembarcar em Sta. Apolónia!
    Essa de corrigir os erros de Marx é bem lembrada,recorram ao Moreira das Neves economista.

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