sábado, 4 de janeiro de 2014

Nuno Melo e a cristandade

Tenho faltado ao compromisso de escrever para este blogue.
Seria aldrabão se dissesse que a minha falha se deve à falta de pretexto. Não deve. Até porque no que toca a meter água a direita não falha. “Malhar na direita” tem por isso tanto de fácil como de imperativo.
É fácil porque eles se põem a jeito; imperativo porque nas mãos deles nem os mais elementares mecanismo de salvaguarda da democracia estão a salvo.
Dúvidas existam e basta ver o que diz hoje o Eurodeputado Nuno Melo em entrevista ao i.
Nuno Melo, esse grande vulto do centro-direita e que se preparar para ser o homem forte da direita portuguesa no Parlamento Europeu, vem dizer que o Tribunal Constitucional é um problema para Portugal. Não lhe bastava ficar conhecido por um arrufo parvo com a Edite Estrela…
Não se fale da forma paroquial com que olha para as questões europeias porque aí o que está dito responde por si.
E porque é o Tribunal Constitucional um problema? Porque não permite cortar na despesa, diz ele.
Impõe-se a questão: que despesa? Aquelas gorduras do Estado que estavam já localizadas pelos partidos da coligação? Que iam ser desbastadas sem impacto na vida dos portugueses? Que constituíram o essencial das promessas eleitorais da direita?
Parece que não… Não tenho na memória nenhum acórdão do Tribunal Constitucional que tenha impedido o corte dessas gorduras. A menos, claro está, que as pensões de reforma sejam, para Nuno Melo, “gorduras do Estado”.
Nuno Melo é também parte de uma direita que se vitimizou a si mesma com a sua demagogia, com as promessas da solução fácil, com a cultura da irresponsabilidade pelas decisões que tomas.
Viva o Tribunal Constitucional!
Porque é o garante do respeito pelos princípios essenciais do Estado do direito democrático. Porque assegura o cumprimento das obrigações que o Estado contraiu com os mais fracos. Porque está sozinho nesse combate. (E já agora pelo impacto que as suas decisões tiveram na melhoria dos indicadores económicos.)
Quando perguntam a Nuno Melo “onde está o lado cristão do CDS?”, ele responde: “O cristão, desde logo, honra os seus compromissos e não se permite destruir um país na base da demagogia, afirmando, quando a bancarrota já está à vista, que gastando-se mais dinheiro se vai fazer bem a alguém. O cristão é aquele que é capaz de gerir com bom senso e com verdade recursos que são escassos, acreditando que os próximos tempos serão melhores. O cristão não mente.”
Estes cristãos honram os seus compromissos, é bem verdade. Com os mais fortes, os ilustres “credores oficiais”, como sempre se referem a eles pomposamente os membros do governo. Já assim não é com os pensionistas, os funcionários públicos. Com esses parece não haver compromissos a honrar. Triste cristão este que se verga perante o forte e é implacável diante do fraco.
Estes cristãos não mentem! Só revogam decisões e compromissos irrevogáveis.
Triste cenário nos oferece este centro-direita. Paulo Núncio dizia há dias que Paulo Portas é o melhor líder que o centro-direita já teve.

Convenhamos que os liderados não são o melhor do resultado da sua liderança.       

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