domingo, 12 de outubro de 2014

O Estado somos nós

É difícil assumir a responsabilidade dos nossos atos. É difícil arcar com as consequências das nossas escolhas. É pesado o fardo de ser o único capaz de ultrapassar as nossas barreiras interiores. Mas mais difícil tarefa, é conciliar toda essa responsabilidade com o desejo fervoroso de ajudar os outros a assumi-la.

E nisto entra o papel do Estado. Mas qual é ele? Será apenas um Estado mínimo cuja função é atenuar as desigualdades e proporcionar aos desfavorecidos iguais oportunidades? Ou será algo de mais profundo, mais paternal, capaz de nos impedir de tomarmos caminhos que serão danosos para a nossa própria existência?

Na minha opinião, este debate é demasiado complexo para me poder limitar a dar uma opinião simplificada. Contudo, não quero deixar de expressar a minha visão sobre este tema.

Para mim, o Estado (essa entidade quase abstrata escondida atrás das longas filas de espera da segurança social e dos hospitais públicos) não é mais do que o conjunto de todos nós. É o conjunto de todas as instituições e pessoas. É a única entidade em quem podemos confiar exatamente por fazermos parte dela.

Mas terá o Estado de ter o papel paternal de nos impedir de seguir rumos que nos levam à infelicidade? Terá o Estado o direito de me dizer o que eu devo ou não fazer relativamente à minha vida? Por muito que nos custe ver um amigo numa relação amorosa complicada, nada saudável, temos o direito de lhe tirar a oportunidade de viver essa relação hedionda com o(a) parceiro(a)?  

Na minha jovem opinião, não. O Estado não pode ultrapassar o limite de “safety net”. Não tem o direito de ser o pai que nos dá ordens, mas tem o dever de ser a mãe que nos recebe sempre de braços abertos mesmo quando erramos. O Estado tem de ter paciência, tem de ser compreensivo, empático. Mas jamais pode ser autoritário, manipulador e moralista. O Estado jamais pode ter como missão incutir valores morais aos cidadãos.

Mas afinal, qual é a linha ténue que separa esses dois Estados?

Para mim essa linha é demasiado complexa para ser definida com meras palavras ou com réguas e esquadros. O papel do Estado tem que ser algo constantemente questionado, avaliado e melhorado. Na economia, por exemplo, tem de ser influente. Tem o dever de garantir aos que vivem em piores condições o direito a viver uma vida digna. Tem de garantir preços baixos (acessíveis a todos) nos sectores basilares da sociedade. Tem de ter um papel ativo.
Mas o contrário se passa quando tocamos nas tradições e na cultura. Não apoiaria um Estado que me ditasse que tipo de comidas eu podia ou não comer, mesmo tendo como fundamento as mais recentes descobertas ao nível da nutrição. Não apoiaria um Estado que me dissesse a que horas o meu filho se deve deitar, com que brinquedos deve brincar ou que roupa deveria vestir. Não apoiaria um Estado que me impedisse de ver filmes pró-fascistas, que me impedisse de me manifestar por mais radical que fosse a minha posição, que me impedisse de ler livros de movimentos totalitários, que me impedisse de criar o meu próprio jornal ou que monopolizasse qualquer meio de comunicação.

O Estado não pode nunca ser esse ser estranho que me vai ensinar a viver a vida. Mas tem de ser sempre aquela entidade que me permite vivê-la, independentemente da minha condição socioeconómica à nascença.
E seja qual for o Estado que tivermos, ele será sempre o conjunto de todos nós.


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