terça-feira, 7 de outubro de 2014

Sectarismo na esquerda

Assusta-me o sectarismo. O pensamento dogmático. Vemo-lo nos neoliberais cegos por pressupostos e de mão dada com os grandes grupos financeiros mas também o vemos na esquerda. Sobre os primeiros já muito pensei, conversei e ataquei. Sobre os segundos começo agora a perceber o seu perigo. E este perigo atinge todos os cidadãos, não atinge só os próprios e os amigos.

Que perigo é este? O perigo da austeridade eterna e do domínio absoluto da política portuguesa pela direita neoliberal. O perigo da descredibilização da democracia e da utilidade dos partidos. E porque é que digo que o sectarismo nos leva a esse perigo? Porque uma esquerda presa a dogmas, a ideais e pressupostos (tão rígidos e falsos como os dos amigos de Friedman), sem coragem para arriscar a tomada do poder e a participação em governos de coligação, é a verdadeira morte do artista.

Diagnósticos? Já muitos foram feitos e todos sabemos a situação do país. Já muita gente se apercebeu do que se está a passar, dos constrangimentos que nos estão a ser impostos. Mas ninguém fala em soluções. Ninguém consegue apresentar soluções realistas e aplicáveis. Se eu queria que o mundo fosse diferente? Claro que queria, mas é a participar no governo que se dá os primeiros passos em direção a uma sociedade diferente. Seria muito mais giro e fácil mudar tudo duma vez só, se não vivêssemos na situação atual.

É uma pena que tantas esquerdas não compreendam o papel fulcral que têm a desempenhar no poder para realmente se sentir uma mudança positiva na nossa vida política. É uma pena que fiquem presos ao seu dogmatismo e arrogância de iluminados incompreendidos. De sonhadores que se recusam a arregaçar as mangas e trabalhar com as ferramentas que nos dão. E a pena que tenho não é deles. Daqui a uns anos é bem possível que venham a mudar de posição (dependendo do que os órgãos da direção lhes disserem para fazer). Tenho é pena dos portugueses que anseiam por um governo que seja capaz de mudar a vida no campo do que é possível e do que é viável, tendo em conta a nossa perda de soberania e as possíveis consequências de atos mais corajosos e dignos frente aos burocratas de Bruxelas.


É uma pena que passados tantos anos de 1848, ainda não se consiga compreender que os radicalismos só nos levam ao fracasso.

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