sábado, 22 de março de 2014

Justiça e Liberdade

Justiça ou Liberdade?
Durante a última semana, refleti sobre esta questão. Até que percebi que não era uma questão, pois nunca estes dois princípios poderiam ser analisados como uma dicotomia. A sua cooperação é constante e fundamental para a maximização de ambos.
Sempre nos ensinaram que “a nossa liberdade acaba quando a dos outros começa”. E é aí que entra a justiça: na base do nosso projeto de ascensão a uma liberdade suprema ou absoluta, estão integrados valores de justiça que nos limitam e nos indicam e alertam para um “excesso de liberdade”. Mas o contrário não sucede. Ninguém nos acusa de sermos demasiados justos e de por isso interferirmos com a liberdade do outro. Desta forma, não poderíamos nunca entender como “ou um ou outro”, mas sim, a evolução e a construção de um, depende das limitações ditadas pelo outro.
Mas com isto, surgiu-me outra questão: então e qual é o limite que a justiça terá de impor à liberdade e em que critério se baseará esse limite? Pois bem, aí olhei para a mais rudimentar das situações e imaginei o que aconteceria se eu tivesse que sobreviver sozinho no mundo, sem mais um único ser humano vivo. Percebi rapidamente que não só as minhas capacidades intelectuais e emocionais ficavam afetadas gravemente, bem como a minha própria segurança ficava em causa. Portanto a minha sobrevivência como ser humano racional, mentalmente são e pensante, depende também da cooperação com o outro. Ora, se a minha liberdade não for limitada por valores de justiça (como por exemplo o direito à integridade física do outro e à sua dignidade), poderá tornar-se danosa para mim, chegando a um ponto autodestrutivo. Assim, eu tenho, por questões de sobrevivência, de limitar a minha liberdade para ela não se tornar a minha própria morte, interferindo no funcionamento do coletivo e atingindo-me indiretamente. Por exemplo, imaginando uma situação hipotética em que eu sou dono de uma empresa: se eu não oferecer um salário razoável, não perceber as diferentes capacidades e aptidões dos meus trabalhadores e não me esforçar para dar aos meus trabalhadores uma vida saudável, motivação e oportunidades de crescimento, estes poderão acabar por se desmotivar, diminuir a capacidade de produção, procurar outros locais de trabalho, reprimir a sua criatividade e/ou capacidade intelectual, levando a uma diminuição da capacidade de produção da minha empresa e, a longo prazo, levar-me a uma queda de lucros ou até nalguns casos, falência.
Essa limitação, terá de ter por base valores de justiça e de empatia, que me permitam viver em cooperação e fraternidade com o outro, respeitando os seus direitos e reconhecendo-lhe a mesma importância para a sociedade que reconheço a mim próprio. Mas precisamente um dos direitos básicos de justiça é o de reconhecimento de igual liberdade ao outro; de igual oportunidade independentemente da sua pré-condição natural, económica ou social. A liberdade está, também, inserida nos valores de justiça fundamentais para a coordenação da construção da nossa própria liberdade.
A justiça não é um caminho e a liberdade outro, a justiça é a base para a construção da liberdade e a liberdade é condição para uma verdadeira justiça.

Nunca uma pode ser deteriorada em nome da outra. 

Sem comentários:

Enviar um comentário