quarta-feira, 19 de março de 2014

Non manifestat

O manifesto “Preparar a reestruturação da dívida para crescer sustentadamente” assinado por 74 personalidades portuguesas, vindas de campos tão separados ideologicamente, vem abrir mais uma ferida bem no centro da exponencial gangrena ideológica e suas instituições, que regulam o caminho económico levado a cabo em Portugal.

Uma solução que deve ser vista como parte do problema que a causou, por isso mesmo sem qualquer tipo de sustentabilidade, e que o perpetuará. 
De pouco servirá para chamar a atenção de um governo cujo mais alto representante apelidou os assinantes desse texto como “essa gente (…) irresponsável”, e do seu crescimento sustentado retira-se apenas a sustentabilidade do sistema causador e interessado na crise. 

É, no entanto, a forma clara e irrevogável – este é-o, garantidamente - do desabamento de qualquer tipo de apoio ideológico por parte de altas influências no meio do espectro político que paira por São Bento.

Recentemente, catedráticos de todo o mundo, conceituados por revistas da finança global e por altos cargos no FMI e outras organizações sui generis, vieram a público acompanhar a ideia assinada pela “gente” de Passos Coelho, que não são mais do que portugueses preocupados com o caminho direccionado ao abismo que Portugal toma ao seguir a rota do rudimentar GPS mercantil. Afirmaram, subliminarmente, que chegou a altura de o Governo ser corrido do poder de decisão.
O manifesto dinamizado por João Cravinho e Francisco Louça ultrapassou, assim, fronteiras de apoio.

Se, até ao momento, das ruas não se conseguiu atear a chama da mudança, surge, tarde, dos mais variados sectores da sociedade, uma voz de ruptura contra o caminho até agora seguido pela troika e o seu obediente animal doméstico governativo. Este manifesto que, não trazendo nada de novo, afirma-se nos media como a solução ideal e, imprudentemente, como a única, será, juntamente com o governo, arrastada pela teia sistémica neoliberal. 
A hipótese de anular a dívida ficará com lugar marcado nas manchetes jornalísticas quando a reestruturação, se se der, levar o país a um estado de afogamento social. 

Desta perigosa e sedutora solução chegamos a um ponto onde responsáveis políticos passeam, mais um pouco, na doente caminhada pelo infinito da estupidez humana ao não saírem simplesmente de cena.


Nós, que sustemos o palco do capital, por outro lado, não vamos a lado nenhum. Para o bem e para o mal.

Manifesto: Preparar a reestruturação da dívida para crescer sustentadamente (na íntegra): http://www.publico.pt/economia/noticia/manifesto-preparar-a-reestruturacao-da-divida-para-crescer-sustentadamente-1627870?page=1#follow


Manifesto da dívida recebe apoio de 74 economistas estrangeiros: http://www.publico.pt/economia/noticia/manifesto-da-divida-recebe-apoio-de-74-economistas-estrangeiros-1628981?page=1#follow



Sem comentários:

Enviar um comentário