domingo, 22 de dezembro de 2013

Aproveitamento despropositado

  O Ministério da Educação e Ciência (MEC) considera que o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) fez um aproveitamento despropositado das declarações do seu ministro. Despropositadas foram as palavras do ministro, responsável pelas instituições que critica. Não me parece que o pedido de demissão seja válido pelas afirmações do ministro. É válido, sim, pela performance de Crato.
  Todo o sistema educativo português tem problemas, e a solução de uns depende da solução de outros. Nenhuma universidade pode funcionar bem enquanto tivermos um ensino secundário problemático, e o mesmo se aplica aos restantes graus de ensino. O problema central é a lógica do nosso ensino. Valorizamos a formação técnica e deixamos de parte a preparação pessoal. Um aluno motivado tem uma taxa de 'successo' maior, uma curva de aprendizagem mais bem desenhada. "A curiosidade matou o gato" é o grande lema do sistema de ensino português. É simultaneamente o lema que destrói qualquer hipótese de motivar alunos. Um aluno curioso é um aluno motivado. Alunos motivados motivam professores, e só assim se constrói um sistema de ensino com alguma lógica. Querem uma boa formação técnica? Primeiro é preciso reunir condições para tal.
  Nuno Crato tem a chave: aumentar a exigência. Nisto estamos de acordo. Discordamos apenas no método. Há duas formas de aumentar a exigência: forçar os alunos a acompanhar o ritmo, ou criar as condições para os alunos exigirem eles próprios um ritmo maior, porque quando se gosta de aprender ganha-se sede de conhecimento. A via do MEC é a 'examocracia'. Até podiam adoptar um lema novo: "um exame por dia, não sabe o bem que lhe fazia". Felizmente, o método de Crato não funciona. Nem poderia alguma vez funcionar.
  Se decidisse usar os milhões que gasta anualmente em provas de avaliação na contratação de mais professores resolvia dois problemas: diminuía o desemprego no sector e melhorava seguramente a performance dos alunos. Uma turma que tenha um rácio menor de alunos/professor será necessariamente mais bem 'sucedida' por uma razão simples - o ensino torna-se mais 'personalizado'. O diálogo simplifica-se e o professor consegue mais facilmente adaptar as suas aulas às características dos seus alunos. Como esperam que um professor do ensino básico dedique atenção suficiente às suas três turmas de 28 alunos? Enquanto o ensino for gerido como se fosse uma empresa, está destinado ao fracasso. Enquanto uma escola em Vila Real de Santo António receber o mesmo tratamento que uma escola no centro do Porto estão as duas destinadas ao fracasso. A envolvente é diferente, os alunos são diferentes, as suas ambições, desejos e circunstâncias são diferentes, e por serem diferentes não podem ser tratadas como iguais.
  Não Nuno, o problema não se resolve com exames. Não Nuno, o problema não é dos politécnicos. O problema conheces tu, e com a tua solução só o vais perpetuar.

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