sábado, 28 de dezembro de 2013

O que hoje não preveniste amanhã não remedeias.

  A Assembleia Nacional Popular Chinesa tomou esta semana duas decisões importantes que evidenciam a mudança que a China tem vivido. A primeira foi a abolição dos campos de re-educação por trabalho forçado (os 'laojiao'), a segunda foi a flexibilização da política de filho único.
  Em rota oposta à Europa, na China vão-se ganhando direitos e, lentamente, destruindo algumas instituições da ditadura. Greves em fábricas chinesas obtém aumentos de salário, as importações crescem, a população chinesa vai conquistando e obtendo poder de compra.
  O que resultará desta tendência num país que sozinho tem quase o dobro da população da União Europeia e Estados Unidos juntos? A performance chinesa tem estado, até agora, dependente de mão-de-obra barata, do estrangulamento do consumo interno e de uma balança comercial que desde o ano 2000 apenas conhece o termo superavit. Contudo, no mesmo período, o salário médio anual na China tem aumentado a um ritmo de 15% anuais, ultrapassando a taxa de inflação que ronda os 3-7%. Lentamente vai emergindo uma classe média na China, e para alimentar, a 'standards' ocidentais, seria necessário duplicar a produção mundial. Neste fenómeno agrava-se um problema - escassez de recursos.
  O chinês de classe média quererá para si exactamente o que vê o europeu ou americano ter, o que me parece um desejo razoável, mas insustentável. Se por enquanto o governo chinês facilmente tem mão na população, com a ocidentalização desta, perderá gradualmente o controlo. A melhoria de vida anda lado a lado com uma mudança de valores. Impor no futuro uma política de filho único como foi imposta no passado poderá ser mais difícil. Quando os protestos começam a obter bons resultados, as más resoluções começam a obter protestos. Assim se passou com a Europa ao longo dos últimos 150 anos e assim se passará na China nos próximos 150.
  Regressamos à máxima da economia, gerir os escassos recursos para satisfazer as infinitas necessidades. O problema é que os recursos se aproximam do esgotamento e as pessoas que deles necessitam são cada vez mais.
  É insustentável, pelo menos por enquanto, que todo o mundo consuma e desperdice a mesma quantidade de recursos que os 'ocidentais' consomem e desperdiçam. Até porque uns fazem-no a custa dos outros. 'Desculpem lá, chegaram tarde e já usámos mais do que podíamos, não sobra muito para vocês...' não me parece uma solução. Por enquanto consumimos porque não deixamos que os outros o façam e chegará o momento em que essa decisão desliza das garras ocidentais para outras quaisquer, que não hesitaram em consumir à custa dos europeus que 'já tiveram o seu tempo'. Só aí nos preocuparemos com a situação, no exacto momento em que se tornar tarde demais fazê-lo.
  É preciso uma mudança no estilo de vida e nos padrões de consumo e desperdício, mas quem gosta de uma mudança que afaste aquilo que conhecemos como conforto?
  Ainda é tempo de prevenção, mas porquê prevenir hoje o que se pode remediar amanhã?..

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