segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Público: "um mundo sem limites" (mediante pagamento de 9,99€/mês)

 Quando surgem os jornais online abre-se uma nova era. Nesta nova era pautada pela diversidade podemos seguir vários jornais, de temas diferentes, linhas políticas diversas e até jornais ou revistas de especialidade gratuitamente. Trata-se de um avanço significativo no que toca à disponibilidade e acesso à informação.
 Para os jornais esta nova era significa mais leitores da versão digital e menos leitores da versão impressa. Por outras palavras, mais 'vendas' mas menos receitas. No mês passado o Público deu o primeiro passo para solucionar o problema - limita o número de artigos gratuitos a um nível absurdo, vinte por mês.
 O primeiro passo era inevitável. Que fosse um passo atrás, por outro lado, era perfeitamente evitável.

 Quando uma empresa desenha uma nova estratégia há vários aspectos a ter em conta. Neste caso, tratando-se de um jornal, podemos apontar alguns: o lucro, o impacto social, o impacto na qualidade e quantidade de notícias entregues, impacto para os trabalhadores da empresa, entre outros, resultantes dessa nova estratégia.
 Teriam que encontrar uma solução para aumentar receitas e manter a qualidade dos serviços prestados, mas não precisavam de sacrificar a entrega das notícias. Há dois meses qualquer pessoa poderia ler notícias no website do Público, mas para ler artigos de opinião, reportagens, artigos técnicos e outros que tais, o utilizador teria que pagar. Faz algum sentido, são serviços que têm custos mais elevados por necessitarem de mão-de-obra especializada. Para além disso, trata-se de informação de outra natureza. Esta lógica não era a ideal, mas era aceitável. As notícias essenciais estavam disponíveis para quem as quisesse, e as especializadas seriam pagas por quem as desejasse.
 Agora podemos ter tudo, "nasceu um mundo sem limites" diz o 'banner' que me proíbe de ler mais notícias por ter excedido o limite mensal. Sem limites mediante pagamento de dez euros mensais.
 Incomoda-me que ao desenhar a nova estratégia o lucro tenha sido o aspecto preponderante e que o impacto social da medida não tenha tido grande peso na decisão. Especialmente tratando-se de um jornal, que pelo papel que desempenha tem um forte impacto na nossa sociedade.

 Imaginando que a estratégia do Público se torna um modelo entraríamos numa nova (ou antiga) fase: a fidelização e privatização da informação. Imaginando que todos os jornais praticariam o mesmo preço, quem gostasse de dois jornais diferentes e recebesse o salário mínimo gastaria quase 5% do seu rendimento mensal para os poder ler. Falamos de informação, um bem quase essencial.
Esta nova fase não é uma evolução, é um retrocesso.

 Se calhar publicidade resolveria o problema. Talvez desse menos lucro, mas pelo menos poderíamos continuar a ler notícias de vários jornais para obter uma visão mais completa da actualidade, mesmo que bombardeados por publicidade. Quem não a desejasse, gostasse de ler crónicas ou reportagens e tivesse meios para pagar, poderia sempre pagar a assinatura. Eles têm a balança, e o cifrão pesa sempre mais. Demais.

 Não compactuo com este tipo de estratégia e como protesto não utilizarei mais o site do Público. Apelo a todos os não-assinantes que o façam também, pode ser que a queda de visualizações tenha algum impacto na continuação, ou não, desta estratégia.

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