quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O que é ser de esquerda hoje?

Numa altura em que a Humanidade enfrenta uma das maiores crises de que há memória, pondo sérias dúvidas relativamente ao seu futuro e à sua sobrevivência – quanto mais não seja, no campo mental -, parece-me razoável que a esquerda realmente adversa ao pântano do capital seja, antes de mais, o principal foco da ruptura sistémica.

Ser de esquerda, hoje, é tanto.

Podemos dizer, com clara convicção, que o que move a esquerda nestes tempos de renovadas relações pessoais, que levam a uma notória gratificação pela dependência de instrumentos, e consequentes atalhos para a alienação - que assim perpetuam a degradação do nosso bem mais precioso, a felicidade da companhia e do calor humano, no seu mais franco significado -, é a mudança

O ser Humano, para viver longe das auguras da necessidade momentânea e da aceitação do conformismo como linha regular de vida, precisa de partilhar experiências que o marquem, vivendo intensamente; atingindo um nível de percepção interior profundo e redescobrindo-se a cada esquina ou tormento, conhece-se.

Na esquerda encontramos o farol – bem mais que político – para quem não se identifica com a banalização da condição humana no seu meio social, que lhe retira as asas da criatividade e da possibilidade de serem plenos seres pensantes.
Nesse farol, vários raios de luz indicam-nos possíveis caminhos que nos permitem vislumbrar um porto seguro detentor de uma honesta esquerda vocacionada para um futuro, que se revela cada vez mais, impróprio para mentecaptas e maquinalmente assertivas no cumprimento de ordens subjugadoras, pois o que transmite o alento profícuo a que se passe por tais obrigações, a sua remuneração - o dinheiro - está a afundar-se ao relento da sua própria estagnação. Podemos, e devemos, vê-lo como um futuro possível. 

Só assim o conseguiremos romper.

E assim continuará a perfurar a sua já frágil linha de circulação, pondo todos os que dele dependem para se sentirem realizados num lago sem margem, afogando cegamente nadadores acéfalos.
Procurando, se encontra, e para quem se quiser libertar da asfixia que nos impede de vivermos dignamente, na esquerda há um sem número de bóias salvadoras prontas a serem lançadas; que pelo reactivismo - tão característico do melhor do homem - se mantiveram cheias, vivas, vermelhas…
E grandiosamente espaçosas.                                                                                                                 

Este sistema desenvolveu-se - enquanto ultrapassava todas as limitações físicas do Homem - segregando para um campo tecnológico todo o potencial que tinha para acabar, entre tantos outros, com crimes humanos inadmissíveis no séc. XXI: a cada segundo morre alguém de fome, por esse horizonte das falanges do esquecimento capitalista.
Rumou-se ao caminho contrário da satisfação de necessidades básicas, entrando num percurso de constante insuficiência; o Homem ficou preso entre as grades de um sistema que, entre naturais crises cíclicas, decide quanto vamos comer ou trabalhar.

A esquerda, contraria tudo aquilo que limita as nossas capacidades humanas e sociais; que nos impede de seguir um caminho tão nosso, tão belo.

Pela virtuosa sensação do companheirismo e do sorriso amigo; pelas planícies irregularmente perfeitas de onde é possível despedirmo-nos de um sol que nos acena cautelosamente, sorrindo com a esperança de um céu limpo; pelas florestas que abundam de fauna e de flora e por querer sentir a vida, sou de esquerda hoje.


1 comentário:

  1. Parece-me uma visão poética algo poética... por isso gosto Pedro Frangioia

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